Você já deve ter encontrado esse termo rodando pela internet: o plot twist. É conhecido e utilizado principalmente em filmes, mas encontra sucesso em qualquer meio narrativo, como séries, quadrinhos, jogos e, claro, livros.
Um recurso muito poderoso, quando bem realizado gera surpresa, discussão, paixão e engajamento entre os leitores. Apesar disso, poucos autores consideram inseri-los em seus livros, seja por desconhecimento ou por receio de “estragar” sua obra.
Sabemos que utilizar esse mecanismo não é uma tarefa fácil, podendo ser amedrontador. Sendo assim, neste artigo apresentamos exatamente o que é e como criar um plot twist, com os principais tipos, exemplos e dicas para você aplicá-lo com maestria em sua história.
Fique conosco e aprenda a surpreender seus leitores!
O que é e como usar o plot twist em sua história?
O que é plot twist?
Um termo em inglês, é a junção das palavras “plot”, enredo, e “twist”, reviravolta. Desse modo, significa uma “reviravolta no enredo”, podendo também ser chamado de ponto de virada. Ele introduz uma mudança inesperada na narrativa, que muda o andar da história e a percepção dos leitores sobre ela.
No cinema, existem alguns exemplos famosos (alerta de spoiler!), como em Star Wars: O Império Contra-ataca, quando o protagonista Luke Skywalker descobre que o vilão Darth Vader é seu pai. Outro muito conhecido é em O Sexto Sentido, quando é revelado que o personagem principal na verdade estava morto todo esse tempo.
Apesar de ter se popularizado no cinema, é um recurso narrativo que está sendo utilizado desde a antiguidade. A peça grega Édipo Rei, de Sófocles, é um exemplo clássico de plot twist, quando o personagem descobre apenas no clímax que matou seu pai e se casou com sua mãe.
Esse recurso milenar pode ter diversas funções. A principal delas é surpreender os leitores: ao introduzir uma mudança inesperada, o autor consegue prender a atenção do público e mantê-lo engajado na história. Essa surpresa revitaliza seu interesse, especialmente nos momentos em que a narrativa pode estar se tornando previsível.
Também é um modo de adicionar complexidade à trama, tornando a história mais rica e multifacetada. Com revelações de novas dimensões dos personagens, o impacto dos eventos pode ser explorado mais profundamente. Assim, novos conflitos são introduzidos, mudando o rumo do livro.
Além disso, uma boa reviravolta pode recontextualizar eventos anteriores, oferecendo uma outra perspectiva. Isso leva o leitor a reavaliar tudo o que aconteceu até o momento, proporcionando uma experiência de leitura dinâmica, reflexiva e muito empolgante.
Um plot twist eficaz é aquele que, ao ser revelado, faz sentido dentro do contexto e adiciona um novo nível de compreensão para a trama. Tem potencial até de criar uma vontade no leitor de reler a história, apenas para experimentá-la novamente sob o ângulo dessas novas descobertas surpreendentes.
Quais são os tipos de plot twist?
Existem diversos tipos de plot twists, cada um com suas particularidades, vantagens e dificuldades. Aqui estão alguns dos mais comuns, com exemplos:
Revelação de identidade
Em histórias que seguem esse tipo de revelação, desvendar a identidade de alguém é a maior surpresa da trama. É comumente utilizada para revelar vilões, que ficam conhecidos como “twist villains”, vilões de reviravolta.
Apesar de ser um recurso comum, ou mesmo por conta disso, é preciso tomar cuidado ao desenvolver um vilão no estilo “twist villain”. Ele deve realmente ser uma surpresa, funcionando mais harmonicamente quando há um antagonista menor, mas bem construído, para distrair o leitor do verdadeiro grande vilão da história.
Outra forma de utilizar esse modelo é revelando a identidade do próprio protagonista a ele mesmo. Ele pode ser “o escolhido”, por exemplo, ou descobrir algo sobre seu passado que muda completamente seu senso de si.
Assim, há uma mudança de perspectiva mais interna e pessoal, que choca não só o leitor como o próprio personagem. Tanto Édipo Rei quanto O Sexto Sentido são exemplos, evidenciando o impacto e o sucesso que se pode obter através desse modelo.
Morte de um personagem relevante
A morte de um personagem importante ou até mesmo do protagonista pode ser um grande recurso narrativo. É uma surpresa grande para os leitores, que estão acostumados a ver os personagens principais como intocáveis na grande maioria das histórias.
Esse modelo de reviravolta cria muita tensão para a trama, dando a sensação de que o perigo é real para os personagens. Além disso, serve para redirecionar a história, usando a morte como ponto de virada.
Um grande exemplo é no livro Guerra dos Tronos, de George R. R. Martin, o primeiro da saga As Crônicas do Gelo e do Fogo. No final, após descobrir as traições e maquinações que levam a morte do Rei de Westeros, Ned Stark é executado em praça pública. Esse evento dá início à guerra que acompanhamos por toda a saga.
É um recurso muito utilizado em quadrinhos, como história de origem para os super heróis. Os entes queridos de personagens como Batman e Homem-Aranha encontram seu fim para que os heróis encontrem seu propósito.
Apesar disso, é preciso ter cuidado ao implementar essa reviravolta. Caso a morte sirva apenas para chocar e não encaminhe a história para um novo lugar, pode se tornar uma experiência frustrante para o leitor.
Conexões descobertas
Muito comum em livros de suspense e em romances policiais são as reviravoltas que vêm através da descoberta de pistas. Quando realizadas com sucesso e planejamento, convidam o leitor a ser também um detetive no decorrer da história.
Obras como O cão de Baskerville de Arthur Conan Doyle e Assassinato no Expresso Oriente de Agatha Christie revelam aos poucos o que realmente aconteceu. Vai se criando tensão e expectativa ao redor da trama, para que, quando as conexões entre as pistas forem finalmente reveladas, seja tanto surpreendente quanto satisfatório para o leitor.
Autores desse estilo devem saber trabalhar a linearidade na construção de suas histórias, visto que a narrativa vai se desenrolando e tornando-se mais clara em um processo linear. A partir da descoberta de pistas, o autor pinta um quadro completo dos acontecimentos.
Assim, o leitor vai descobrindo junto aos personagens o que realmente aconteceu no livro. Isso torna a história ainda mais envolvente, podendo criar debates entre leitores apaixonados e troca de teorias, tudo a partir desse recurso narrativo.
Traição
Histórias que têm uma traição como sua reviravolta essencial possuem uma grande carga emocional. Se bem feita, pode afetar não só os personagens da história como o leitor, fazendo com que ele também sinta o impacto da traição.
A traição pode ser revelada pelo próprio traidor ou pelo protagonista, ou ainda por um terceiro personagem. Um exemplo no cinema é Cypher, de Matrix. Antes parte da equipe de Morpheus, torna-se desiludido com a realidade distópica e entrega o líder da operação em troca de receber sua ignorância de volta.
Também pode vir para beneficiar o protagonista, como foi o caso no livro Harry Potter e as Relíquias da Morte, de J. K. Rowling. No último livro da saga, Snape trai Voldemort, mostrando ter estado do lado de Harry ao longo de todos os livros, apesar de seu comportamento desagradável.
A traição acarreta sua morte e faz tanto o leitor quanto Harry repensar suas suposições sobre o sombrio professor de Poções. Sendo assim, esse modelo de plot twist pode trazer uma grande carga emocional e uma nova perspectiva para a história.
Nada do que aconteceu foi real
O famoso “era tudo um sonho” é uma das reviravoltas mais conhecidas e infames. Apesar da reputação, existem casos em que essa escolha faz sentido para a narrativa, fugindo do estereótipo.
Em livros infantis, como Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, pode ser um recurso para dar segurança aos pequenos leitores, assegurando que tudo está bem ao final e reforçando a temática da imaginação.
Já em Um Conto de Natal, de Charles Dickens, é utilizado para apresentar a mudança necessária ao protagonista, que recebe a visita de espíritos natalinos à noite. A partir dessas visitas, o velho Scrooge vai de uma pessoa amarga e avarenta para alguém mais amável e generoso. O que mais importa na trama é a evolução do personagem, que só pode ser atingida através desse sonho.
Também é utilizado em filmes com temáticas mais adultas, como Inception, dirigido por Christopher Nolan. Na maioria das vezes, serve como um final aberto, para gerar especulação e convidar os leitores e espectadores a tirar suas próprias conclusões sobre a trama.
Apesar disso, é preciso muito cuidado ao aplicar esse tipo de reviravolta. Se não fizer sentido com a temática da trama, pode parecer um final preguiçoso, que tira todos os riscos do livro e faz com que o leitor sinta que nada do que leu realmente importou.
Narrador não confiável
Um dos tipos de plot twists mais complicados de se realizar, o narrador não confiável pode ser um dos mais surpreendentes e inusitados. Em um recurso quase metalinguístico, o autor utiliza um elemento narrativo para ocultar verdades e enganar o leitor.
Por meio de um narrador personagem, um dos três tipos de narradores, a história apresenta um ponto de vista sobre os acontecimentos, que pode não ser verdadeiro. Existem dois tipos protagonistas nesses livros: os que sabem dos segredos que escondem e os que não sabem.
O Assassinato de Roger Ackroyd, de Agatha Christie, configura na primeira categoria. No final, é revelado que o assassino é, na verdade, o próprio protagonista. Ele usa sua posição privilegiada como narrador para enganar o leitor, que pode então reler a obra e perceber todas as pistas que deixou escapar.
Já em Clube da luta, de Chuck Palahniuk, o narrador não sabe que não é confiável, surpreendendo a si mesmo no final. É revelado que o protagonista e o antagonista são, na verdade, a mesma pessoa. O próprio personagem principal não sabia disso, enganando e distorcendo a realidade do livro não só para o leitor como para si mesmo.
Nessas narrativas, o autor deve saber muito bem quem seu protagonista é, partindo dessa grande revelação para montar a história. O narrador personagem deve ser consistente e confiável, mas ainda manter certo mistério, para que a reviravolta seja possível.
Mid twists e double twists
A quantidade de plot twists e o local onde eles aparecem no livro também os diferenciam. A maioria das histórias conta com apenas uma grande revelação, localizada mais próxima do final do arco narrativo de uma história.
Em mid twists (reviravolta no meio, traduzido), a reviravolta acontece no ponto médio da história, ao invés de ao final. Assim, o autor tem tempo para utilizar essa mudança de perspectiva e introduzir uma nova fase na narrativa.
Um exemplo disso é em Garota Exemplar, de Gillian Flynn. É revelado no meio da história que a responsável pelo desaparecimento de Amy na verdade é ela mesma, como um modo de se vingar de seu marido Nick por traí-la. A partir disso, a história torna-se muito mais complexa, sem um vilão claro, deixando os leitores incertos do que acontecerá ao final.
Já o double twist (reviravolta dupla, traduzido) é um pouco mais difícil de criar, portanto, mais raro. Consiste em duas reviravoltas quase que seguidas, a primeira normalmente sendo uma distração ou distorção da segunda.
No filme Cisne Negro, Nina vai lentamente perdendo a sanidade. A primeira reviravolta chega quando a protagonista alcança ao pico de sua insanidade, esfaqueando outra bailarina. Pouco tempo depois, no entanto, é revelado que Nina na verdade esfaqueou a si mesma sem perceber, tamanha sua loucura.
Essas diferenciações trazem uma nova dinâmica para a história, fugindo da fórmula de reviravoltas comum. Apesar disso, devem ser feitas com muito cuidado, para se manterem coesas e impactantes.
Como fazer um bom plot twist?
Agora que você já sabe o que é e os principais tipos de plot twist, confira como aplicar esse recurso em seu livro da melhor maneira:
Planeje sua história
Uma boa reviravolta deve ser surpreendente, mas continuar coesa com a história contada até então. É preciso pensar muito bem no plot twist, de modo que o leitor consiga, em retrospecto, pontuar todas as pistas que levaram a história até aquele ponto.
Para isso, é preciso estruturar a narrativa com antecedência, de modo que as informações reveladas façam sentido e se encaixem perfeitamente com o livro. Monte uma estrutura por capítulos para sua narrativa, esquematizando tudo até o momento da grande revelação.
Assim, você não se perde no meio de sua própria história e garante que sua reviravolta seja tanto impactante quanto coerente. Em nosso Manual de Desenvolvimento de Narrativas, há um modelo preenchível de estrutura narrativa para ajudar você a desenvolver desde o conceito do livro até seus personagens e o enredo.
Evite clichês
A maior função desse recurso narrativo é surpreender o leitor. Portanto, evite as reviravoltas batidas, pois essas já são esperadas pelo público. Procure sempre inovar em sua história, trazendo revelações realmente surpreendentes.
Alguns exemplos de revelações clichê para se evitar:
- O mordomo era o assassino;
- O pai/parente próximo/melhor amigo do protagonista é o vilão;
- Foi tudo um sonho/mentira/alucinação;
- O plano dar errado na verdade era parte do plano;
- O protagonista é o “escolhido”;
- O personagem que pensávamos estar morto na verdade está vivo.
Você também pode se utilizar dessas convenções para subvertê-las. Assim, você encaminha seu leitor para uma conclusão e o surpreende revelando algo completamente diferente do esperado.
Utilize pistas falsas
Você precisa enterrar bem suas pistas verdadeiras, oferecendo opções para fomentar as teorias dos leitores. Desse modo, você os mantém engajados, incertos e ansiosos para desvendar o mistério. O melhor modo de fazer isso é através das pistas falsas.
Junto às pistas verdadeiras, integre outras informações que podem levar seu leitor por outro caminho. O ideal é que tenham várias pistas falsas e apenas algumas verdadeiras, de modo a driblar o leitor, mas ainda manter a história coerente.
Atenção: não coloque pistas falsas que não sejam amarradas ao longo da história. Elas devem ser provadas como falsas ou apresentar as próprias conclusões. Construa aos poucos a inevitabilidade de sua reviravolta e não deixa nenhuma ponta solta para trás.
Respeite seus leitores
Embora seja necessário certa dose de engano em uma boa reviravolta, não trate seu público com desrespeito. Isso inclui tanto assumir que não terão capacidade para desvendar o mistério quanto incluir uma reviravolta incongruente.
Não coloque pistas óbvias demais, considere a inteligência do seu leitor e seja sutil com suas indicações. Do mesmo modo, não coloque uma reviravolta que não faça sentido com a narrativa. Isso pode gerar, além de confusão, um sentimento de injustiça, de que a narrativa foi preguiçosa e inseriu uma reviravolta apenas por impacto.
Um modo de testar isso é através do uso de leitores beta e alfa. Entregue sua obra a esses leitores para medir a eficácia de sua revelação. A partir do feedback, ajuste o desenvolvimento da narrativa para potencializar seu plot twist.
Utilize narrativas não-lineares
Flashbacks podem ser recursos incríveis na hora de fazer uma revelação. Brinque com a estrutura da trama, inserindo elementos não-lineares para montar uma narrativa dinâmica e surpreendente.
Você pode, por exemplo, apresentar a história com capítulos no passado e no presente. Ao longo do livro, aproxime os personagens no presente de descobrir o que aconteceu no passado. Assim, a revelação vai se encaminhando pelos dois lados, criando e aumentando a tensão ao longo da história.
Outro modo de aplicar isso é inserindo lembranças no meio da história. Você pode fazer o leitor pensar que são memórias do protagonista, e no final revelar que são memórias do vilão, por exemplo. São muitas as possibilidades e maneiras de realizar uma revelação.
Como você pode ver, os plot twists podem alterar drasticamente o rumo da trama. Revelam novas informações, recontextualizam eventos passados de maneira significativa e mantém os leitores engajados.
De twist villains a narradores não confiáveis, mid twists e mortes inesperadas, esse recurso proporciona uma experiência de leitura memorável e impactante. Utilizando as dicas que apresentamos, você com certeza está mais preparado para criar um plot twist de sucesso!
Quer saber mais sobre como manter seus leitores investidos até a última página? Confira nosso guia para escrever um epílogo e aprenda a fechar sua história com maestria.
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