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30 poetas brasileiros

30 poetas brasileiros de leitura indispensável

A poesia brasileira é rica, múltipla e expansiva, contando com séculos de produção. Representando diversas escolas literárias, contextos históricos e ideais artísticos, são muitos os artistas que mergulharam na escrita de versos e estrofes.

Entre milhares de escritores, porém, alguns se destacam, tornando-se aclamados por leitores e críticos. São autores que ficaram conhecidos por suas obras não só no Brasil, como no mundo.

Do barroco ao contemporâneo, selecionamos 30 dos poetas brasileiros mais icônicos e marcantes, que são de leitura indispensável. Fique com a gente e confira!

30 poetas brasileiros de leitura indispensável

Poeta Carlos Drummond de Andrade

1 – Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

Nascido em Itabira, Minas Gerais, Carlos Drummond de Andrade é o poeta mais influente da literatura brasileira, sendo uma figura central da segunda fase modernista no Brasil. Além de dominar a arte de escrever poesia, também foi autor de crônicas e contos.

Entre suas obras mais conhecidas estão Alguma Poesia (1930) e A Rosa do Povo (1945). Seu estilo é conhecido pelo verso livre, que rompe com as formas tradicionais. O cotidiano se apresenta tanto na linguagem coloquial de seus poemas quanto nos temas abordados.

A poesia de Drummond se utiliza da ironia e do humor e é marcada pela metalinguagem. Em seus versos, traz reflexões profundas sobre temas universais, como o amor e a solidão, mas também sobre a sociedade brasileira da época, com críticas sociopolíticas. 

No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Poeta Vinícius de Moraes

2 – Vinicius de Moraes (1913-1980)

Vinicius de Moraes foi um poeta, cantor, compositor e diplomata carioca, amplamente reconhecido como um dos fundadores da Bossa Nova. Conhecido como o poetinha, estreou na poesia com O Caminho para a Distância (1993).

Ficou conhecido pelo lirismo e temática da paixão em sua poesia, que combina a sensualidade com uma profundidade emocional intensa. Seus versos são impregnados de musicalidade e ritmo.

Embora seja conhecido principalmente por seus sonetos de amor, também fazia denúncias a problemas sociais e políticos em suas obras. Além disso, desenvolveu diversos poemas infantis em seu livro A Arca de Noé (1970), que conta com o famoso poema A Casa, sobre uma casa muito engraçada, sem teto, sem nada…

Soneto de fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Manuel Bandeira poeta

3 – Manuel Bandeira (1886-1968)

Manuel Bandeira foi um poeta, crítico literário e tradutor, sendo um dos grandes escritores brasileiros. Nascido no Recife, Pernambuco, foi um dos principais nomes da primeira fase modernista no Brasil, apesar de sua origem no parnasianismo. 

Seu poema Os Sapos foi lido na Semana de Arte Moderna de 22, tornando-o um dos fundadores do movimento, que promoveu uma ruptura com a poesia tradicional. Tem uma obra extensa, que aborda o cotidiano, com caráter simples e direto.

Retrata em suas poesias a melancolia, a angústia e a morte, baseando-se nos próprios problemas de saúde que enfrentava. Porém, também trazia humor e ironia, principalmente em seus poemas-piada.

Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.

— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Poeta Cecília Meireles

4 – Cecília Meireles (1901-1964)

Professora, jornalista e pintora, Cecília Meireles foi uma das maiores poetas brasileiras. Nascida no Rio de Janeiro, sua obra é vasta e abrange poesia, prosa e literatura infantil. Entre suas principais obras estão Viagem (1939) e Romanceiro da Inconfidência (1953).

É conhecida por seu estilo neossimbolista, íntimo e psicológico, abordando temas como a solidão, a identidade, a passagem do tempo e a saudade, além de questões sociais. Suas obras infantis, em contrapartida, são poemas leves e musicados, cheios de jogos de palavras.

Utiliza tanto versos livres, sem métrica ou rima, quanto versos regulares, metrificados e rimados, em suas poesias. A espiritualidade e o sentimento de transitoriedade também são temas recorrentes em sua obra, que tem um tom melancólico e contemplativo.

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Poeta Adélia Prado

5 – Adélia Prado (1935-)

Um dos maiores nomes entre os escritores de literatura contemporânea brasileira, Adélia Prado é uma professora e poeta renomada, nascida em Divinópolis, Minas Gerais, onde reside até hoje. Além de poemas, também escreveu romances e contos.

Sua carreira literária começou apenas aos 40 anos, com a publicação de Bagagem (1976), que teve o apoio de Carlos Drummond de Andrade e chamou a atenção da crítica. É conhecida por explorar o cotidiano em suas poesias, focando em temas da fé, do feminino, da morte e do desejo.

Caracterizada por uma linguagem simples, coloquial e direta, captura as nuances da vida doméstica ao mesmo tempo em que aborda questões filosóficas e existenciais. Com sua sensibilidade singular, explora a vida em suas pequenas e grandes dimensões.

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Poeta Gonçalves Dias

6 – Gonçalves Dias (1823-1864)

Um dos grandes nomes da primeira geração do romantismo, Gonçalves Dias foi um poeta, dramaturgo e etnógrafo brasileiro. Nascido em Caxias, Maranhão, é autor do célebre poema Canção do Exílio e de outras obras que exaltam o recém emancipado Brasil.

A poesia de Gonçalves Dias é marcada pelo nacionalismo romântico, com a valorização da paisagem brasileira, da pátria e a idealização do indígena como herói nacional. Tem caráter bucólico e ufanista, abordando também o tema do amor impossível.

Sua obra é permeada por um lirismo melodioso e estrutura formal, com versos perfeccionistas, rimados e metrificados, mas longe do exagero rebuscado comum aos românticos. É considerado um dos primeiros poetas verdadeiramente brasileiros.

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Poeta Olavo Bilac

7 – Olavo Bilac (1865-1918)

Eleito como o príncipe dos poetas brasileiros pela revista Fon-Fon em 1913, Olavo Bilac foi um poeta e jornalista brasileiro. Nascido no Rio de Janeiro, é um dos principais nomes do parnasianismo no Brasil e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. 

Conhecido por seus sonetos impecavelmente construídos, sua poesia é marcada pela busca da perfeição formal, com ênfase na métrica, na rima e no uso preciso da linguagem. Seus temas muitas vezes giram em torno do amor, da pátria e da beleza, com um lirismo refinado e um tom elevado.

Entre suas obras, também estão algumas prosas e diversos poemas voltados ao público infantil. Conhecido republicano, foi o liricista de Hino à Bandeira do Brasil, sendo que muitas de suas poesias exaltam a Língua Portuguesa, encorajam a participação cívica e buscam por uma noção de nação brasileira.

Soneto XIII

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

 E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.

Poeta Paulo Leminski

8 – Paulo Leminski (1944-1989) 

Paulo Leminski foi um poeta, escritor e tradutor brasileiro, nascido em Curitiba, Paraná. Sua obra abrange poesia, prosa, ensaios e algumas obras infantis, com destaque para seus livros Caprichos e Relaxos (1983) e Distraídos Venceremos (1987).

Leminski foi um importante nome na poesia marginal e vanguardista, tendo influências do concretismo e do modernismo em seus poemas. Se destacou por sua experimentação com a forma e a linguagem, com poesia breve e repleta de jogos de palavras.

Sua obra é marcada pela irreverência e pelo humor, abordando diversos temas, utilizando expressões e ditados populares. Ficou especialmente conhecido por seus poemas curtos inspirados nos haicais japoneses.

Incenso fosse música

isso de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

Poeta Cora Coralina

9 – Cora Coralina (1889-1985)

Cora Coralina foi o pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto, uma das mais importantes poetas brasileiras do século XX. Nascida em Goiás, suas obras retratam a vida cotidiana do interior do Brasil, com uma voz que reflete a sabedoria popular.

Publicou seu primeiro livro apenas aos 75 anos, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais (1965). Apesar de começar sua carreira literária mais tarde, a aclamação crítica não demorou a chegar, sendo que Carlos Drummond de Andrade foi um de seus grandes admiradores.

Seus poemas são marcados pela simplicidade, trazendo suas experiências e costumes do interior de Goiás, com um caráter memorialístico e autobiográfico. Tem uma linguagem informal e se utiliza de versos livres, focando mais na mensagem do que na forma.

Assim eu vejo a vida

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

Poeta Mario Quintana

10 – Mario Quintana (1906-1994) 

Mario Quintana foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro, nascido em Alegrete, Rio Grande do Sul. O gaúcho é autor de obras como A Rua dos Cataventos (1940) e O Aprendiz de Feiticeiro (1950).

Experimentou tanto com estruturas mais formais, como sonetos, quanto versos livres. Conhecido como o poeta das coisas simples, utiliza muito do cotidiano, aproveitando o coloquialismo com sensibilidade e profundidade.

Bem-humorado e leve, tem uma linguagem clara e direta. Sua poesia é marcada pela simplicidade aparente e por um lirismo delicado que aborda temas como a infância, o amor, a passagem do tempo e a natureza.

Poeminho do contra

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!

Poeta Carolia Maria de Jesus

11 – Carolina Maria de Jesus (1914-1977)

Carolina Maria de Jesus foi uma escritora e cronista brasileira. Mãe solteira, era catadora de lixo para sustetar a si e aos filhos e usou sua escrita para documentar as dificuldades e injustiças enfrentadas pela população negra, pobre e marginalizada.

É conhecida principalmente por seu livro Quarto de Despejo (1960), que retrata sua vida na favela do Canindé, em São Paulo. Teve que deixar a escola cedo, no segundo ano, mas sempre foi apaixonada pela leitura e pela escrita. 

A escrita de Carolina Maria de Jesus é marcada por sua crueza e autenticidade. Em sua poesia, tem uma linguagem direta e simples, com temas de morte e abandono, denunciando as violências que vivia como mulher negra e favelada.

Muitas fugiam ao me ver…

Muitas fugiam ao me ver
Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia

Era papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quiz fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto

Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.

Poeta Machado de Assis

12 – Machado de Assis (1839-1908)

Escritor que dispensa apresentações, Machado de Assis foi um dos maiores nomes da literatura do Brasil e do mundo. Nascido no Rio de Janeiro, foi fundador da Academia Brasileira de Letras e é autor de clássicos como Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Dom Casmurro (1899).

É considerado o maior representante do realismo no Brasil, conhecido por sua ironia marcante, crítica à burguesia e análise psicológica. Mais celebrado por seus romances, contos e crônicas, também foi escritor de poesia, tendo publicado 5 coletâneas de poemas.

Escreveu em versos regulares, metrificados e rimados, muitas vezes se utilizando do soneto. Em seus poemas, pouco conhecidos pelo grande público, aborda temas do amor, introspecção, religião, morte e questões sociais. 

A uma senhora que me pediu versos

Pensa em ti mesma, acharás
Melhor poesia,
Viveza, graça, alegria,
Doçura e paz.

Se já dei flores um dia,
Quando rapaz,
As que ora dou têm assaz
Melancolia.

Uma só das horas tuas
Valem um mês
Das almas já ressequidas.

Os sóis e as luas
Creio bem que Deus os fez
Para outras vidas.

Poeta Manoel de Barros

13 – Manoel de Barros (1916-2014)

Manoel de Barros foi um poeta brasileiro nascido em Cuiabá, Mato Grosso, considerado um dos maiores poetas brasileiros do século XX. Sua obra, que inclui livros como O Guardador de Águas (1989) e Livro Sobre Nada (1996), teve grande impacto no pós-modernismo.

Em sua poesia, aborda temas do cotidiano, inserindo expressões coloquiais rurais, preservando a oralidade e, mais ilustramente, incorporando neologismos. Também ficou conhecido por explorar os sentidos (visão, tato, paladar, audição, olfato) em seus versos, muitas vezes de maneira sinestésica.

Tem um estilo que incorpora regionalidade e traços autobiográficos, abordando temas da natureza, mas também sociais. Manoel de Barros traz uma sensibilidade aguda para o mundo natural e uma valorização das coisas simples em sua poesia.

Borboletas

Borboletas me convidaram a elas.
O privilégio insetal de ser uma borboleta me atraiu.
Por certo eu iria ter uma visão diferente dos homens e das coisas.
Eu imaginava que o mundo visto de uma borboleta seria, com certeza,
um mundo livre aos poemas.
Daquele ponto de vista:
Vi que as árvores são mais competentes em auroras do que os homens.
Vi que as tardes são mais aproveitadas pelas garças do que pelos homens.
Vi que as águas têm mais qualidade para a paz do que os homens.
Vi que as andorinhas sabem mais das chuvas do que os cientistas.
Poderia narrar muitas coisas ainda que pude ver do ponto de vista de
uma borboleta.
Ali até o meu fascínio era azul.

Poeta Cruz e Souza

14 – Cruz e Souza (1861-1898)

O maior representante do simbolismo no Brasil, Cruz e Souza foi um poeta nascido em Santa Catarina. É conhecido por sua poesia marcada por uma linguagem elaborada e pela exploração de temas como a morte, o sofrimento e a espiritualidade.

No que diz respeito à forma de seus poemas, preferia o soneto, mas também experimentou com estruturas menos rígidas. Tem como característica o pessimismo, com teor existencial, contemplativo e misterioso.

Sua obra é marcada por uma busca pela transcendência, utilizando imagens sugestivas e uma linguagem rica em metáforas e sinestesias. Permeado por sua subjetividade, Cruz e Souza é uma figura central na literatura brasileira.

Ironia de Lágrimas

Junto da morte é que floresce a vida!
Andamos rindo junto a sepultura.
A boca aberta, escancarada, escura
Da cova é como flor apodrecida.

A Morte lembra a estranha Margarida
Do nosso corpo, Fausto sem ventura…
Ela anda em torno a toda criatura
Numa dança macabra indefinida.

Vem revestida em suas negras sedas
E a marteladas lúgubres e tredas
Das Ilusões o eterno esquife prega.

E adeus caminhos vãos mundos risonhos!
Lá vem a loba que devora os sonhos,
Faminta, absconsa, imponderada cega!

Poeta Ferreira Gullar

15 – Ferreira Gullar (1930-2016)

Fundador do neoconcretismo brasileiro, Ferreira Gullar foi um poeta, crítico de arte e ensaísta brasileiro, nascido em São Luís, Maranhão. É conhecido, além de suas obras, por ter forte participação sociopolítica e militante, que acarretou em sua prisão e exílio durante a época da ditadura militar.

Sua poesia é marcada por seu compromisso com questões sociais e políticas. Poema Sujo (1976), sua principal e mais renomada obra, foi escrita durante seu exílio político na Argentina. Além de sua poesia social, aborda temas da memória e da identidade, principalmente em sua produção inicial.

Tem como característica a experimentação com a forma em alguns de seus poemas, explorando o espaço da página com seus versos, traço do concretismo. Se utiliza de uma linguagem direta e simples, carregando um ar de denúncia em sua obra.

Dois e dois: quatro

Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena

Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é azul o oceano
e a lagoa, serena

como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena

— sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena

Poeta Gregório de Matos

16 – Gregório de Matos (1636-1696)

Conhecido como o “Boca do Inferno”, Gregório de Matos foi um escritor do período colonial, nascido em Salvador, Bahia. Foi um dos principais nomes do período barroco no Brasil, e um dos primeiros poetas brasileiros.

Com um estilo satírico e crítico, conquistou o apelido por suas duras críticas à Igreja Católica, chegando a ser denunciado à inquisição. Figura polêmica, abordava temas como a corrupção, a hipocrisia, o erotismo e a própria religião.

Em sua dualidade barroca, combina o sagrado e o profano, o erudito e o popular, criando uma obra que inclui desde sátiras ferozes até poemas líricos e religiosos. Sua poesia é marcada pelo uso de metáforas, antíteses e ironias, que refletem as tensões e contradições de sua época.

À cidade da Bahia

Triste Bahia! oh, quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado,
Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mim abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e tem trocado
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh, se quisera Deus que, de repente,
Um dia amanheceras tão sizuda
Que fora de algodão o teu capote!

Poeta Hilda Hilst

17 – Hilda Hilst (1930-2004)

Com mais de 50 anos de produção literária, Hilda Hilst foi uma escritora, poeta e dramaturga brasileira, conhecida por sua obra complexa e provocadora. Nascida em Jaú, São Paulo, Hilst produziu uma vasta obra que abrange poesia, prosa e teatro.

Com grande caráter experimental e hermético, se destaca por seus poemas que cutucam e provocam reflexão nos leitores e sua prosa que utiliza o fluxo de consciência, muitas vezes mesclando gêneros literários. Foi considerada transgressora e polêmica pelos críticos da época.

Sua escrita é marcada por uma exploração profunda dos limites da linguagem, abordando temas como a sexualidade feminina, o amor, o desejo, a espiritualidade, o misticismo e a morte. É uma obra intimista e existencial, marcada pela ironia, erotismo e não linearidade.

Dez chamamentos ao amigo

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

Poeta João Cabral de Melo Neto

18 – João Cabral de Melo Neto (1920-1999)

Conhecido como o poeta-engenheiro, João Cabral de Melo Neto foi um escritor e diplomata brasileiro, nascido em Recife, Pernambuco. Foi outro grande nomes da poesia brasileira do século XX, com uma obra marcada pela clareza e precisão.

Autor da famosa obra Morte e Vida Severina (1955), é conhecido por seu rigor formal e sua economia de linguagem. Parte da terceira fase modernista, também foi um dos fundadores do concretismo no Brasil.

A obra de Cabral aborda questões regionalistas do nordeste, com cunho social, crítico e realista, muitas vezes explorando a imagem da pedra em seus versos. Seu estilo é caracterizado por uma escrita seca, direta e descritiva, que evita o lirismo excessivo e a subjetividade. 

O Relógio

Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.

Se são jaulas não é certo;
mais perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quadradiço de forma.

Umas vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.

Mas onde esteja: a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;

e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade.

Poeta Augusto dos Anjos

19 – Augusto dos Anjos (1884-1914)

Nascido na Paraíba, Augusto dos Anjos foi um professor e poeta, representante do pré-modernismo brasileiro. Eu (1912), sua única obra publicada em vida, chocou a sociedade da época.

Caracterizado por uma visão materialista e desencantada da vida, expressa isso em imagens fortes e muitas vezes revoltantes. Tem uma estética própria, da podridão e da decomposição, com caráter biológico, cético e mórbido.

Sua poesia aborda temas como a morte, a decadência e a angústia existencial. É única em sua fusão de elementos simbolistas e parnasianos com uma linguagem científica e filosófica, sendo considerado um dos autores brasileiros mais originais de todos os tempos.

Versos íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de sua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Poeta Ana Maria Machado

20 – Ana Maria Machado (1941-) 

Ana Maria Machado é uma escritora e jornalista carioca, conhecida por sua vasta obra de literatura infantil e juvenil. Autora de Bisa Bia, Bisa Bel (1982) e Menina Bonita do Laço de Fita (1986), é um dos grandes nomes da literatura contemporânea.

É uma das mais importantes autoras do Brasil, com livros traduzidos em várias línguas e uma carreira marcada por prêmios literários. Embora seja mais conhecida por sua prosa infantil, também produziu poesia. 

Sua poesia infantil é caracterizada por uma linguagem acessível e imaginativa, que cativa leitores de todas as idades. Explora a linguagem e o ritmo, brincando com as palavras através de temas corriqueiros.

Lista de chamada

Cada nome em seu lugar
A começar pelo A
Antônio, Ana e Abel
Mas não encontro a Bebel
que está no l de Isabel
E nem adianta chamar

E não sei por que o Zé
Nunca está na letra Z
Vai no Jota se esconder
Disfarçado de José

Mas o nome que eu mais quero
Nunca está no quadrado e onde
Mora lá no meu segredo
Só eu sei onde se esconde

Poeta Alice Ruiz

21 – Alice Ruiz (1946-) 

Alice Ruiz é uma poeta e letrista brasileira, nascida em Curitiba, Paraná. Sua obra inclui poesia, haicais e letras de música. Publicou mais de 20 livros, com antologias traduzidas para diversos países.

Foi casada com Leminski e, assim como ele, se encantou pelo formato pequeno do haicai japonês. Sua poesia é marcada pela concisão e pela busca da simplicidade, com bom-humor e minimalismo.

Explora o cotidiano em seus versos, tocando em temas mais profundos com sensibilidade a partir de imagens simples e comuns. É um dos grandes nomes do haicai e da literatura contemporânea no Brasil.

A gaveta da alegria
já está cheia
de ficar vazia

Poeta Castro Alves

22 – Castro Alves (1847-1871)

Apelidado como o poeta dos escravos, Castro Alves nasceu na Bahia e foi uma das figuras mais importantes da terceira geração do romantismo brasileiro. É conhecido por sua obra em defesa da abolição da escravatura, sendo uma das vozes abolicionistas mais altas da época.

Grande nome do condoreirismo, corrente literária marcada por suas pautas sociais, a poesia de Castro Alves tem forte apelo social e humanitário. Com uma linguagem apaixonada e intensa, recorre a vocativos, exclamações e hipérboles para suscitar emoções.

O poema O navio negreiro é seu texto mais lembrado, um extenso poema narrativo que denuncia as condições desumanas dos escravos. Seus versos são conhecidos por sua eloquência e por um lirismo que combina o amor com a luta pela liberdade.

Canção do africano

Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão …

De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar…
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!

“Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!”

Poeta Ariano Suassuna

23 – Ariano Suassuna  (1927-2014) 

Ariano Suassuna foi um escritor, dramaturgo e poeta brasileiro, nascido em João Pessoa, Paraíba. Autor do célebre Auto da Compadecida (1955) e fundador do Movimento Armorial, é uma das figuras mais importantes da literatura nordestina.

A poesia de Ariano Suassuna é marcada pela influência do barroco, se afastando um pouco de sua linguagem coloquial, sendo de uma compreensão um pouco mais complexa. Combinam tradição popular e a cultura erudita, sempre com o foco regionalista.

Sua obra celebra a cultura do nordeste, combinando elementos do teatro popular com a literatura europeia. Tem um estilo é ao mesmo tempo lúdico e profundo, refletindo sua visão de uma arte genuinamente brasileira.

A infância

Sem lei nem Rei, me vi arremessado
bem menino a um Planalto pedregoso.
Cambaleando, cego, ao Sol do Acaso,
vi o mundo rugir. Tigre maldoso.

O cantar do Sertão, Rifle apontado,
vinha malhar seu Corpo furioso.
Era o Canto demente, sufocado,
rugido nos Caminhos sem repouso.

E veio o Sonho: e foi despedaçado!
E veio o Sangue: o marco iluminado,
a luta extraviada e a minha grei!

Tudo apontava o Sol! Fiquei embaixo,
na Cadeia que estive e em que me acho,
a Sonhar e a cantar, sem lei nem Rei!

Poeta Raul Bopp

24 – Raul Bopp (1898-1984) 

Grande nome do modernismo brasileiro, Raul Bopp foi um escritor e diplomata gaúcho. Participou da Semana de Arte Moderna de 22, fazendo parte do movimento antropofágico liderado por Oswald de Andrade.

Sua obra é conhecida pela fusão de elementos míticos e folclóricos indígenas com a experimentação formal, unindo cultura popular e vanguardas europeias. Além de poemas, também foi um escritor de prosa, especialmente da crônica.

Sua obra Cobra Norato (1931) o solidificou como uma das figuras-chave do modernismo no Brasil, sendo considerada a mais importante do movimento antropofágico. É um exemplo de sua habilidade em criar uma poesia que reflete a identidade brasileira, ao mesmo tempo em que desafia as convenções poéticas tradicionais.

Trecho de Princípio

No princípio era sol, sol, sol
O Amazonas ainda não estava pronto
As águas atrasadas
derramavam-se em desordem pelo mato

O rio bebia a floresta
Depois veio a Cobra Grande Amassou a terra elástica e pediu para chamar sono
As árvores enfastiadas de sol combinaram silêncio
A floresta imensa chocando um ovo!

Cobra Grande teve uma filha. Ficou moça
Um dia
ela disse que queria conhecer homem
Mas não encontraram rastro de homem

Então
Começaram a adivinhar horizontes
e mandaram buscar de muito longe um moço

Ai! Que houve festa na floresta!

Mas a filha da Cobra Grande não queria dormir com o
noivo

Poeta Solano Trindade

25 – Solano Trindade (1908-1974)

Conhecido como o poeta do povo, Solano Trindade foi escritor, ator e ativista brasileiro, nascido em Recife, Pernambuco. Foi um dos fundadores do Teatro Experimental do Negro e utilizou sua obra para lutar contra o racismo e promover a cultura afro-brasileira.

Sua obra é marcada pela oralidade e pela celebração das tradições e cultura negra, ao mesmo tempo em que denuncia as injustiças sociais. Aborda temas como a desigualdade social, a resistência e o senso de comunidade.

A poesia de Solano Trindade é caracterizada por sua linguagem direta e engajada, que reflete as lutas e as aspirações do povo negro no Brasil. É considerado o criador da poesia assumidamente negra, sendo uma figura central na literatura de resistência.

Bolinhas de gude

Jorginho foi preso
quando jogava bolinha de gude
não usou arma de fogo
nem fez brilhar sua navalha

Jorginho era criança igual às outras
queria brincar
O brinquedo poderia ser um revólver
uma navalha
um pandeiro
quem sabe um cavalinho de pau
Jorginho queria brincar

Jorginho viu um filme americano
no outro dia
fez uma quadrilha de mentirinha
sempre brincando
a quadrilha foi ficando de verdade
Jorginho ficou grande como Pelé
todos os dias saía no jornal…

Televisionado
só não deu autógrafo
porque estava algemado

Ele era o facínora
que brincava com bolinhas de gude.

Poeta Gilka Machado

26 – Gilka Machado (1893-1980) 

A carioca Gilka Machado foi uma poeta e ativista feminista, representante do simbolismo brasileiro. Foi uma das primeiras mulheres a ganhar reconhecimento na literatura brasileira, com obras como Cristais Partidos (1915) e Meu Glorioso Pecado (1928).

É conhecida por sua defesa dos direitos das mulheres, sendo uma das maiores vozes a favor do voto feminino. Considerada uma das precursoras do feminismo na literatura brasileira, é um marco na expressão da voz feminina na poesia.

A característica mais marcante de sua poesia é o tom erótico dos versos. Sua obra explora com sensibilidade temas como a sensualidade e desejo femininos, a liberdade, o amor e a transgressão, desafiando as normas sociais de sua época.

Saudade

De quem é esta saudade
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?
De quem é esta saudade,
de quem?
Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo…
E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo…
De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo?

Poeta Conceição Evaristo

27 – Conceição Evaristo (1946-)

Conceição Evaristo é uma escritora e poeta brasileira, nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais. Sua obra aborda as questões de raça, gênero e classe no Brasil, com destaque para o romance Ponciá Vicêncio (2003).

Embora mais reconhecida por sua prosa, escrevendo alguns dos contos brasileiros mais icônicos em sua coletânea Olhos D’Água (2014), também escreveu poemas. Marcada pelo conceito da escrevivência que permeia toda sua obra, sua poesia também parte da experiência de vida da autora e de sua comunidade

Evaristo é uma voz importante na literatura contemporânea, especialmente na representação da mulher negra e periférica brasileira. Sua linguagem é direta, emotiva e carregada de significados sociais e históricos, com caráter antirracista e de resistência.

Eu-Mulher

Uma gota de leite
me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas.
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inauguro a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo.
Antecipo.
Antes-vivo
Antes – agora – o que há de vir.
Eu fêmea-matriz.
Eu força-motriz.
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-contínuo
do mundo.

Poeta Pagu

28 – Pagu (1910-1962)

Patrícia Galvão, conhecida como Pagu, foi uma artista, jornalista, e ativista brasileira, nascida em São João da Boa Vista, São Paulo. Figura central do Modernismo e do movimento antropofágico, Pagu é autora de Parque Industrial (1933), o primeiro romance proletário do Brasil.

A escrita de Pagu é marcada por sua linguagem inovadora e por uma visão crítica da sociedade, especialmente no que diz respeito às questões de classe e gênero. Além de sua produção literária, Pagu foi uma importante militante e participou ativamente do cenário político e cultural brasileiro.

Sua poesia é um reflexo de seu engajamento político e de sua luta pelos direitos das mulheres e dos trabalhadores. Pagu é lembrada como uma pioneira na literatura de vanguarda e um símbolo feminista brasileiro.

Hoje me falaram em virtude

Tudo muito rito, muito rígido
Com coisinhas assim mais ou menos
Sentimentais.

Tranças faziam balanças
Nas grandes trepadeiras
Estávamos todos por conta de.

Nascinaturos espalhavam moedinhas
Evidentemente estavam brincando
Pois evidentemente, nos tempos atuais
Quem espalha moedas
Ou é louco, ou é porque
está brincando mesmo.
O que irritou foi o porquê.

Poeta Ana Cristina Cesar

29 – Ana Cristina Cesar (1952-1983)

Considerada uma das principais vozes da geração mimeógrafo e da poesia marginal, Ana Cristina Cesar foi uma escritora e tradutora carioca. É conhecida por sua escrita intimista e fragmentada, que explora os limites entre a vida pessoal e a poesia.

Focando em versos na primeira pessoa, traz uma ficção autobiográfica e de autorreflexão, permeada por ironia, crítica social e temáticas do cotidiano. Apesar de ter falecido jovem, com apenas 31 anos, Ana C. consolidou-se como uma das principais poetas do Brasil.

Marcada por uma linguagem coloquial e confessional, revela uma profunda introspecção e uma abordagem radicalmente subjetiva da experiência poética. Sua obra desafia as fronteiras entre o público e o privado, entre a prosa e a poesia, criando uma escrita única e inovadora.

cabeceira

Intratável.
Não quero mais pôr poemas no papel
nem dar a conhecer minha ternura.
Faço ar de dura,
muito sóbria e dura,
não pergunto
“da sombra daquele beijo
que farei?”
É inútil
ficar à escuta
ou manobrar a lupa
da adivinhação.
Dito isto
o livro de cabeceira cai no chão.
Tua mão que desliza
distraidamente?
sobre a minha mão

30 – Haroldo de Campos (1929-2003)

Haroldo de Campos foi um poeta, tradutor e ensaísta brasileiro, nascido em São Paulo. Junto com seu irmão Augusto de Campos e Décio Pignatari, foi um dos fundadores do movimento concretista, que revolucionou a poesia brasileira nos anos 1950.

Sua obra é marcada por experimentação formal e uma abordagem intersemiótica, que busca integrar diferentes formas de arte e comunicação. É influenciado por uma vasta gama de referências culturais, filosóficas e linguísticas.

Haroldo de Campos é um dos maiores expoentes da poesia concreta e um dos mais importantes teóricos da literatura brasileira. Sua poesia é recheada de aliterações, metalinguagem, rimas internas, repetições, mistura de prosa com poesia e uso da espacialidade.

poesia em tempo de fome
fome em tempo de poesia

poesia em lugar de poesia
nome em lugar de pronome

poesia de dar o nome

nomear é dar o nome

nomeia o nome
nomeia o homem
no meio a fome

nomeia a fome

Como você pode ver, a poesia brasileira está cheia de escritores excepcionais, cada um com um estilo próprio. Grandes nomes como Carlos Drummond de Andrade, Adélia Prado, Gonçalves Dias e Hilda Hilst marcaram seus versos na história da cultura brasileira.

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