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Criar personagens - Editora Viseu

Criar personagens: Guia Completo para novos escritores

Criar personagens marcantes e inesquecíveis exige do escritor um trabalho de planejamento complexo e de muito envolvimento psicológico.

Há livros e livros, ou seja, você vai encontrar muitas obras com personagens vagos e sem expressividade, porém existem obras cujos personagens parecem fazer parte do seu dia a dia.

Isso acontece por causa de um processo chamado de empatia emocional. Este fenômeno faz com que o leitor sinta a dor, a alegria e a intensidade das emoções dos personagens.

Essa empatia só ocorre quando o personagem possui uma profundidade em suas características.

Acontece quando o autor explora e expressa os sentimentos mais íntimos, capazes de fazer o leitor se tornar quase “um” como o personagem em questão.

Certamente você não quer sentar e se esforçar por horas, dias e meses para escrever e publicar um livro de ficção ou de fatos reais com personagens rasos e sem expressividade, certo?

Por isso, elaboramos este artigo para que você entenda como criar personagens marcantes que elevem o nível da sua narrativa.

Índice do Artigo

O que é criação de personagens?

A criação de personagens é uma das etapas da estruturação de um enredo narrativo.

Cada autor pode criar seus personagens ao seu próprio modo, ou seja, não há um “regimento literário” que oriente a forma certa de se fazer isso.

Contudo há técnicas capazes de ajudar os novos autores a destravarem sua criatividade, planejando os personagens da melhor forma possível.

O que é verossimilhança e o que tem a ver com criar personagens?

Verossimilhança é um termo muito comum no meio literário, principalmente quando se trata sobre escrever ficção.

Verossimilhança é capacidade de fazer um sentimento que você descreve ficar o mais próximo da realidade possível, ou seja, requer uma capacidade de detalhamento que leve o leitor a fazer uma conexão entre ficção e realidade.

Mas por que é interessante falar deste tema no sentido de criar personagens? A resposta é justamente esta:

O leitor precisa fazer uma conexão real entre experiências que ele já teve com as situações vividas pelo personagem.

Isso deve ser levado em conta para que você não se atenha, por exemplo, em criar um personagem perfeito, ou seja, cujo caráter não tem falhas.

Um ser assim não é real, pois todos sabemos que o ser humano está passível de cometer erros, pensar de forma equivocada, ter reações sem medir as consequências, enfim, uma série de outras falhas.

Essa capacidade de representar um personagem em todas as suas nuances é o que faz seu leitor enxergá-lo como uma pessoa real que tem seus pontos fortes e fracos.

Ao conhecer bem o caráter do personagem, o próprio leitor poderá ter uma previsibilidade das ações que o personagem pode ter.

Buscar a verossimilhança na descrição de um personagem é então importante para que seu leitor crie laços com ele.

Quais os tipos de personagens de uma narrativa?

A estrutura de um enredo é composta por: Personagens principais (Protagonistas), Personagens Secundários (também chamados de coadjuvantes), e Personagens Antagonistas (os que geralmente desempenham papel de vilão).

Vamos entender mais sobre cada um desses tipos de personagens?

Nas seções abaixo, vamos entender o papel de cada tipo de personagem, e vamos dar dicas de elementos essenciais na construção de cada tipo.

Personagens principais

É possível que em uma obra existam vários personagens que desempenham papéis fundamentais para continuidade do enredo.

De fato não uma regra, você pode ter um romance com dois personagens principais, ou apenas um deles ser de fato o protagonista da história.

Por outro lado, um autor pode tranquilamente eleger três ou mais personagens para terem caráter de protagonistas em sua obra.

O protagonismo está ligado à centralização do enredo. Podemos dizer então que todo o enredo vai girar em torno desse personagem.

No geral, são os protagonistas que tomam iniciativas heroicas responsáveis pelos desfechos do enredo, porém mais uma vez reforçamos a ideia de que isso não é uma regra.

Você já leu histórias onde o vilão (personagem antagonista) se redime ao longo da obra e no fim se torna o herói?

É exatamente isso que queremos explicar. Ao estudarmos parâmetros literários, não podemos nos apropriar deles como regras que barrem nossa capacidade criativa.

Personagens secundários

Esses personagens são aqueles que também podem desempenhar papéis essenciais na obra, porém suas aparições sempre irão girar em torno de algum personagem principal.

O personagem secundário, também conhecido como coadjuvante, também precisa de uma atenção especial quanto a sua criação.

Por mais que os personagens secundários não sejam o centro do enredo, eles também precisam trazer impacto na forma como você descreve suas emoções.

Ser secundário, não quer dizer que o personagem será insignificante. Ele apenas não terá um papel determinante no enredo.

Se ele morrer, por exemplo, a obra continua.

Personagens antagonistas

Esses personagens são mais conhecidos como vilões. Eles também possuem papel determinante no enredo, pois é deles que partem os conflitos da narrativa.

Os personagens antagonistas precisam ainda mais de atenção em sua construção psicológica, pois além de você descrever seus atos malignos, é ideal que você descreva o porquê de o vilão agir dessa forma.

Em uma narrativa inteligente, um vilão é bem mais do que um ser que nasceu da maldade, ou seja, ele pode ser uma pessoa ou uma criatura cuja história de vida o levou aos atos maléficos.

Quando você descreve o passado de um personagem, o leitor consegue fazer conexões entre seus atos e sua história, ou seja, como se os atos de maldade fossem justificados pelas situações passadas que o antagonista viveu.

Como criar personagens literários?

Vamos então a parte prática de como planejar a criação de personagens literários.

É importante informar que além deste Blog Post, temos um eBook que auxilia você na construção dos seus personagens.

Você vai poder acessar o ebook ao final deste artigo. Antes disso, vamos observar pontos importantes sobre como criar personagens.

criar personagens - homem escrevendo em quadro branco

Características físicas

Possivelmente, você já deve ter lido obras nas quais o autor não descreve a aparência do personagem

Há autores que simplesmente focam nas etapas do enredo, conflitos, clímax, desfecho, e acabam deixando as questões físicas pela imaginação do leitor.

Isso não é errado, porém queremos ressaltar aqui uma grande vantagem da descrição física na hora de criar personagens.

Quando você possui uma escrita rica em detalhes, você leva o leitor a imaginar os cenários e as pessoas de acordo com suas próprias impressões.

Ao descrever as características de um personagem, você praticamente “desenha e imprime” uma pessoa na mente do leitor, fazendo com que ele crie um vínculo ainda mais forte com o personagem.

Vamos observar um exemplo?

EXEMPLO 01: Personagem sem descrição física

Isabel era a única enfermeira experiente no plantão. Os cirurgiões demoravam a chegar, pois a tempestade derrubou árvores na avenida que dava acesso ao hospital, causando inclusive acidentes.

Contudo, o paciente estava ali, já preparado no centro cirúrgico, com poucos minutos de vida. A tensão estava alta.

Todos olhavam a porta, na esperança de que um médico aparecesse. Sem titubear, Isabel ignorou seus batimentos acelerados, pegou a lâmina e começou a abrir o peito do paciente na região do pulmão para enfiar o tubo de drenagem.

Todos se espantaram com a reação, afinal, ela não tinha essa permissão.

EXEMPLO 02: Personagens com descrição física (descrições físicas em negrito)

Isabel era a única enfermeira experiente no plantão. O uniforme azul marinho a destacava das demais que eram enfermeiras técnicas, vestindo verde.

Os cirurgiões demoravam a chegar, pois a tempestade derrubou árvores na avenida que dava acesso ao hospital, causando inclusive acidentes.

No centro cirúrgico, todos franziam a testa de tanta preocupação, e olhavam fixamente para a porta na esperança de que um médico aparecesse.

Sem titubear, Isabel olhou para o pobre homem esticado na maca, com sua pele cada vez mais branca, perdendo cor por causa da hemorragia.

Pelo reflexo de um espelho que estava a sua frente, ela viu seus próprios cabelos negros e se lembrou de quando seu pai, um homem alto, negro e imponente a dizia, afagando seus cabelos: “Você é inteligente e eu acredito que você é capaz”.

Isabel apertou as mãos, e todos na sala puderam ouvir seus dedos finos estalarem. Pronto, era sinal de que ela tomaria a iniciativa de salvar aquele senhor, abrindo seu peito com uma lâmina e drenando o sangue dos pulmões com um tubo.

Certamente o exemplo 02 foi responsável por causar em você uma identificação maior com a personagem. 

No exemplo 01, você não sabia que o paciente era branco, e que Isabel era uma mulher de cabelos negros, dedos finos, filha de um homem alto, negro e imponente.

A mesma história foi contada a partir de dois tipos diferentes de construção de personagem, no quesito Características físicas.

Dica importante para o seu livro:

Liste os personagens, e nessa fase física, descreva-o em detalhe. Desde a cor dos cabelos, olhos, formato do corpo, dentre outras coisas que você achar relevante. 

Após ter tudo isso listado, futuramente você vai ter mais propriedade para usar esses detalhes ao longo do enredo.

Características psicológicas

Nesta fase, você lista os personagens e descreve os pontos fracos e fortes de sua personalidade.

Diferente das características físicas, a parte psicológica é crucial para que você entenda quais reações o seu personagem vai ter diante dos conflitos do enredo.

Pontos fortes:

  • determinado
  • resiliente
  • imponente
  • inteligente
  • perspicaz
  • Puro
  • Forte
 

Pontos fracos

  • medroso
  • mentiroso
  • volátil
  • fofoqueiro
  • desatento
  • malicioso
  • fraco

Aqui estão somente alguns exemplos de pontos fracos e fortes, porém você sabe que existem muito mais.

Uma observação importante a se fazer é que um mesmo personagem poderá ter pontos fortes e fracos, porém mesmo assim, agir de forma diferente e inusitada, ou seja, sem relação com os pontos que você planejou.

Vamos aos exemplos de narrativas com detalhamentos psicológicos?

Compare novamente! Os exemplos 01 e 02 são distintos:

EXEMPLO 01: Enredo sem descrição psicológica

Carlos acordou do coma e logo viu dezenas de desenhos colados na parede em sua frente. Após um lágrima rolar pelo lado direito do rosto, ele conseguiu levantar com dificuldade, e se aproximou das pinturas, imaginando que elas tinham sido feitas por seu filho, que no dia do acidente era recém nascido.

EXEMPLO 02: Enredo com descrição psicológica (Detalhes psicológicos em negrito).

Carlos acordou do coma e seus olhos logo giraram pelo quarto, como numa vertigem, ele se angustiou, pois não lembrava por segundos onde ele estava.

Mesmo sendo um homem imponente que pouco demonstrava fragilidade, ele se levantou da cama e com dificuldade foi até a parede da frente observar os desenhos colados , com seus olhos marejados.

Ele  se aproximou das pinturas com o coração acelerado, pois na parte inferior de cada desenho estava escrito Davi, o nome de seu filho que era recém nascido na ocasião do acidente. O desespero o tomou, e Carlos caiu de joelhos no tapete, porque ele refletiu em poucos segundos sobre o tempo que ficara em coma. 

Você pode notar que as palavras em negrito são responsáveis pela definição das reações e pensamentos do personagem. 

A partir disso, o leitor consegue fazer uma conexão com os sentimentos do personagem em tempo real.

Descrições psicológicas enriquecem o leitor com informações sobre como o personagem pode ou não reagir diante dos conflitos.

Características históricas

Essas características são pequenos trechos que contam a trajetória de cada personagem, a fim de que o leitor entenda sua origem, ou  a origem de suas reações.

Muitas reações dos personagens se justificam a partir do que nós entendemos a respeito de sua história.

Liste seus personagens, e crie ao lado de cada um uma breve história sobre sua origem, e os principais fatos que aconteceram em suas vidas, pontos de conflito, e fatos que você acha importante.

Vamos exemplificar uma última vez para podermos entender este tipo de característica?

EXEMPLO 01 – Enredo sem característica histórica

Ao ser tocado no ombro pelo professor, Augusto deu soco em sua mão, levantou-se com ímpeto, derrubando a cadeira e assustando os colegas. Após gritar bem alto “não toca em mim”, ele saiu pela porta correndo, sumindo pelos corredores da escola, sem que ninguém entendesse o fato.

EXEMPLO 02 –Enredo com características históricas

Ao ser tocado no ombro pelo professor que sempre foi um homem amigável e afetuoso com os alunos, Augusto deu um soco em sua mão, pois o toque o fez lembrar da série de abusos que ele havia sofrido semanas antes por parte de um homem mau que o obrigara a fazer coisas sem seu consentimento.

Você pode notar que no segundo exemplo, Augusto teve sua descrição histórica tão bem detalhada, que o próprio leitor já consegue antecipar uma justificativa de seus atos impetuosos.

A descrição histórica também aparece na primeira parte em que o professor demonstra afeto, por ser uma pessoa já habituada a ter carinho pelas pessoas.

Conclusão sobre criar personagens

Esperamos que com esses exemplos e conceitos nós tenhamos ajudado você a perceber o quão importante é planejar previamente os detalhes dos seus personagens.

Quando você emprega tempo “desenhando” as características dos personagens, você também cria um vínculo com eles, e isso é capaz de abrir ainda mais o seu leque criativo.

Para ajudar você nessa jornada de planejamento, destacamos aqui abaixo um e-Book que ensina você a detalhar ainda mais os seus personagens.

ebook sobre como desenvolver um personagem - editora viseu - enredo

Quanto mais tempo você passar planejando cada detalhe, mais robusta e detalhada sua obra vai ficar, e isso é essencial para que você crie um laço de afetividade entre os personagens e o seu leitor.

E você? Qual tática você gosta de usar para que seus personagens tenham relevância diante do leitor? Queremos saber sua opinião!

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