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Entenda por que todo escritor precisa ler, e por que todo leitor deveria escrever.

Ler e escrever sempre caminharam lado a lado — mas raramente paramos para pensar no quanto uma prática alimenta a outra. Escritores que não leem ficam presos em seus próprios limites criativos. Leitores que não escrevem muitas vezes deixam passar a oportunidade de aprofundar a compreensão daquilo que consomem.

Esse ciclo não é apenas intuitivo — ele é comprovado por neurocientistas e educadores como uma das formas mais eficazes de aprender, criar e expressar. A leitura amplia nosso vocabulário, estimula a empatia e abre novas janelas para o mundo. A escrita, por sua vez, nos obriga a organizar ideias, formular argumentos e desenvolver uma voz própria.

Nesta matéria, vamos explorar como leitura e escrita formam um ciclo virtuoso de crescimento intelectual, emocional e criativo — e, principalmente, como você pode aplicar isso na sua rotina com técnicas simples e eficazes. Do diário de leitura às resenhas literárias, vamos te mostrar por que esse hábito integrado transforma não só sua relação com os livros — mas sua capacidade de pensar, sentir e se comunicar.

Transforme seu hábito literário.

Por que escritores precisam ser leitores

Um escritor que não lê é como um músico que nunca escuta música. A leitura oferece referências, amplia vocabulário, ensina ritmo, estrutura, estilo e desenvolve senso crítico. Stephen King, por exemplo, afirma: “Se você quer ser escritor, deve fazer duas coisas acima de tudo: ler muito e escrever muito.”

Um estudo da University College London (UCL), publicado no Journal of Cognitive Neuroscience, mostra que a leitura estimula não apenas as áreas linguísticas do cérebro, mas também as associadas à imaginação, ao raciocínio moral e ao processamento emocional — elementos fundamentais para uma narrativa envolvente.

Além disso, ler ativa as regiões cerebrais associadas à criatividade, segundo artigo da Scientific American (2013), “The Reading Brain in the Digital Age”. Essas áreas são as mesmas que usamos quando criamos personagens, cenas e diálogos — ou seja, a leitura literalmente estimula o cérebro do escritor.

Leitura também é exposição ao que já foi feito — para que você possa ousar fazer diferente. Escritores que leem desenvolvem um radar narrativo mais aguçado: sabem quando estão repetindo fórmulas e quando estão criando algo novo.

Como ler com intenção transforma a escrita

Ler por prazer já é transformador. Mas ler com intenção vai além: é leitura ativa, com objetivo de aprendizado. Isso inclui observar o estilo de outros autores, destacar frases marcantes, fazer anotações e tentar reescrever trechos com sua própria voz. Esses pequenos exercícios treinam o olhar do escritor.

O pesquisador Daniel T. Willingham, da Universidade da Virgínia, defende que “a compreensão profunda está ligada à atenção intencional” — ou seja, ler como um escritor é uma das formas mais potentes de aprendizado literário.

Dicas para ler com intenção:

  • Marque trechos que mexeram com você e pergunte-se: por quê?
  • Compare estilos narrativos entre autores que abordam o mesmo tema.
  • Reescreva cenas com outro tom — transforme um drama em comédia, por exemplo.
  • Tente identificar o arco emocional dos personagens em cada capítulo.


Essa forma ativa de leitura é uma aula prática constante, e gratuita, de escrita.

Por que leitores devem escrever

Escrever é conversar com o que você leu. Quando um leitor registra suas impressões, está reconstruindo o conhecimento em um novo formato — o que aprofunda a experiência de leitura. Segundo matéria da Psychology Today (“Why Writing Helps Us Learn Better”, 2017), escrever ajuda a consolidar ideias, aumentar a retenção e melhorar a interpretação de texto.

O educador literário Peter Elbow, autor de “Writing Without Teachers”, defende que escrever sobre o que lemos é uma forma de dialogar com o texto — e esse diálogo desenvolve tanto compreensão quanto crítica.

Leitores que escrevem conseguem:

  • Reter o conteúdo por mais tempo;
  • Desenvolver argumentos sobre o que leram;
  • Interpretar as intenções do autor com mais clareza;
  • Criar pontes entre leituras distintas, construindo um repertório intelectual mais coeso.


Se você deseja se tornar um leitor mais crítico e sensível, escrever é o caminho mais direto.

Como escrever melhora a compreensão e retenção

O ato de escrever reorganiza os pensamentos. Quando você tenta explicar com suas palavras aquilo que leu, precisa selecionar, hierarquizar e estruturar ideias. Esse processo ativa áreas do cérebro ligadas à memória de longo prazo e à compreensão profunda — o que significa que você não apenas entende melhor o conteúdo, como também o guarda por mais tempo.

Uma pesquisa da Universidade de Indiana concluiu que escrever à mão ativa mais regiões cerebrais do que digitar, especialmente em crianças e jovens, sugerindo que a escrita física favorece a retenção. Mas o mesmo princípio vale para adultos que redigem resumos, resenhas ou reflexões — seja no papel ou digitalmente.

Além disso, escrever fortalece o chamado “conhecimento ativo”: aquilo que conseguimos explicar, ensinar ou aplicar. Leitura nos fornece conhecimento passivo. A escrita o transforma em algo que nos pertence.

Técnicas práticas: diário de leitura, fichamento, resenhas e ensaios curtos

Quer começar a escrever sobre o que lê? Aqui vão três caminhos simples e eficazes — com orientações práticas para aplicar hoje mesmo:

  1. Diário de leitura

O diário de leitura é um registro pessoal e contínuo das suas experiências enquanto lê. Não se trata de um resumo do enredo, mas de uma escrita reflexiva e subjetiva. Nele, você pode incluir:

  • Emoções e pensamentos despertados pelo livro
  • Questionamentos sobre decisões dos personagens ou do autor
  • Frases que marcaram sua leitura e por quê
  • Conexões com experiências pessoais ou outros livros


💡
Dica prática: use um caderno separado ou aplicativo como Notion, Evernote ou Google Docs para manter tudo organizado por data ou capítulo.

  1. Fichamento

O fichamento é uma técnica acadêmica que ajuda a organizar o conteúdo de uma obra de forma sistemática. Existem três tipos principais:

  • Fichamento de conteúdo: reúne as ideias principais do livro com suas próprias palavras
  • Fichamento bibliográfico: anotações das informações técnicas da obra (autor, título, edição, editora etc.)
  • Fichamento de citações: trechos transcritos fielmente, seguidos de comentários críticos


💡
Dica prática: faça seu fichamento dividindo cada capítulo com um título e três colunas: conceito, exemplo e comentário pessoal. Isso ajuda tanto no aprendizado quanto na consulta futura.

  1. Resenhas e ensaios curtos

A resenha é um texto opinativo que analisa e avalia uma obra. Já o ensaio é um texto mais livre e aprofundado que discute uma ideia ou tema a partir da leitura.

  • Em uma resenha, apresente um breve resumo da obra, destaque pontos positivos e negativos, e diga para quem o livro é indicado.
  • No ensaio, escolha uma questão provocadora que a leitura levantou e desenvolva argumentos pessoais sobre ela.


💡 Dica prática: publique suas resenhas em blogs, redes sociais ou plataformas como o Skoob ou Goodreads. Isso reforça sua escrita e ajuda outras pessoas a descobrirem boas leituras.

Exemplos práticos para aplicar hoje mesmo:

Exemplo de diário de leitura:

📖 Livro: “Cem Anos de Solidão” – Gabriel García Márquez
🗓️ Data: 01/07/2025
✍️ Anotação:
“A sensação de tempo suspenso me deixou inquieto. É como se o autor brincasse com a eternidade — o tempo não passa, ele dobra. Me identifiquei com Aureliano por causa da solidão silenciosa, não triste, mas inevitável.”

Exemplo de fichamento de conteúdo:

📘 Livro: “O Príncipe” – Maquiavel
• Capítulo 6: “Dos novos principados adquiridos com armas próprias e virtude”
• Conceito central: A conquista baseada no mérito é mais estável.
• Exemplo: Cita Moisés, Ciro e Rômulo como fundadores com “virtù”.
• Comentário: O autor valoriza a habilidade política acima da sorte. Essa ideia pode ser aplicada também em projetos pessoais — não confiar no acaso, mas em preparo.

Exemplo de mini-resenha:

🎯 Livro: “A Revolução dos Bichos” – George Orwell
Uma alegoria potente sobre poder e corrupção. Mesmo sendo uma fábula, carrega camadas de crítica que permanecem atuais. Orwell entrega uma narrativa simples na forma, mas brutal em sua mensagem. Leitura curta, porém profunda. Recomendo para quem busca reflexões sobre política, liderança e manipulação.

Conclusão

Ler e escrever não são caminhos opostos. Eles se alimentam. Um melhora o outro. E, juntos, formam a base para uma mente criativa, reflexiva e em constante evolução.

Se você quer escrever melhor, comece lendo com mais intenção. E se deseja ler com mais profundidade, experimente escrever sobre o que leu. Esse ciclo transforma não só o seu repertório — transforma quem você é.

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