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Como cultivar o gosto pela leitura na infância.

Ninguém nasce apaixonado por livros. Esse amor se constrói com gestos simples, consistência e, acima de tudo, vínculo afetivo. Para muitas pessoas, o hábito da leitura começou com alguém especial lendo uma história antes de dormir, com um livro colorido deixado ao alcance ou com a liberdade de escolher um título na biblioteca da escola.

A infância é o terreno mais fértil para plantar essa semente. E quanto mais cedo o contato com os livros, maiores as chances de formar um leitor para a vida toda. Segundo o relatório “Reading for Change” da OECD, crianças que têm contato com livros em casa desde pequenas tendem a desenvolver não só maior desempenho em leitura, mas também mais empatia, criatividade e pensamento crítico.

Mas como despertar esse gosto pela leitura em um mundo de tantas distrações digitais? Nesta matéria, vamos apresentar 4 estratégias práticas — e afetuosas — para cultivar a leitura desde cedo e tornar os livros parte natural do dia a dia das crianças.

Transforme o momento da leitura em um hábito.

Por que o gosto pela leitura é cultivado, não herdado

O interesse por livros não é inato — ele é construído no ambiente em que a criança vive. A pesquisadora Maria José Nóbrega, especialista em formação de leitores, afirma que “ninguém nasce leitor, torna-se leitor a partir das práticas que vivencia”.

Isso significa que a leitura precisa ser apresentada não como obrigação, mas como prazer. Crianças imitam comportamentos. Se elas veem adultos lendo com frequência e carinho, entenderão que os livros fazem parte de uma rotina afetiva. O contrário também é verdadeiro: quando o livro é associado à cobrança ou tédio, a criança cria resistência.

Estudos como o “Every Child a Reader” da National Literacy Trust mostram que a leitura diária com crianças melhora não apenas o desempenho escolar, mas também o bem-estar emocional. É um hábito que forma tanto o intelecto quanto o afeto.

1. Torne a hora da leitura mágica

Criar um momento mágico para a leitura é o primeiro passo para encantar uma criança. Usar entonações diferentes, dar vozes únicas aos personagens, criar pequenos efeitos sonoros com objetos do cotidiano e fazer perguntas imaginativas (“O que você faria se estivesse nesse lugar?”) transforma a leitura em uma experiência envolvente.

De acordo com um estudo da Universidade de Sussex (2019), essa leitura dialogada — em que o adulto interage com a criança durante a história — ajuda a desenvolver linguagem, memória e vínculos emocionais. É também uma forma de mostrar que ler é prazeroso, não apenas educativo.

Faça da leitura um espetáculo íntimo, um ritual especial. A cada página virada, a criança começa a esperar o próximo capítulo — não porque foi obrigada, mas porque quer viver aquela história com você.

2. Crie um cantinho aconchegante

O ambiente influencia diretamente o comportamento de leitura. Ter um cantinho reservado para os livros — com almofadas, uma luminária suave e uma pequena estante acessível — mostra para a criança que a leitura tem valor.

Segundo a pedagoga Letícia Gonzales, especialista em espaços educadores, “quando os livros estão ao alcance, a criança sente que tem permissão para tocá-los, abri-los, explorá-los”. Esse acesso livre fortalece a autonomia e o vínculo com os livros.

Não precisa ser uma biblioteca. Um canto com uma caixa de livros e um tapete já cria um espaço afetivo. Deixe que a criança personalize o ambiente: escolha onde vão os livros, coloque desenhos nas paredes. Quando ela sente que o espaço é seu, a leitura se torna natural.

3. Dê autonomia na escolha

Um dos gestos mais simples — e poderosos — para formar um leitor é dar liberdade de escolha. Quando a criança pode decidir o que quer ler, ela se sente respeitada e envolvida.

Pesquisas da Scholastic (“Kids & Family Reading Report”) apontam que 89% das crianças dizem que preferem ler livros que elas mesmas escolhem. Essa autonomia desenvolve senso crítico, gosto pessoal e reforça o pertencimento ao universo da leitura.

Visitem livrarias juntos. Crie um ritual de troca de livros entre amigos ou primos. Apresente opções, mas não force preferências. Deixe que ela descubra os próprios caminhos — inclusive mudando de ideia no meio da leitura. Isso também faz parte do processo.

4. Integre no dia a dia

Leitura não precisa de um momento solene. Pequenos rituais diários criam grandes leitores. Uma história curta antes de dormir. Um momento calmo no fim de semana. Ou até um “minuto livro” depois das refeições — todos esses momentos mostram que o livro cabe na rotina.

O pediatra Daniel Becker defende que “o hábito da leitura se constrói quando ela deixa de ser exceção e vira parte do cotidiano”. Para isso, é essencial que o adulto também se envolva: leia ao lado, compartilhe impressões, mostre que a leitura é parte da sua vida também.

Com o tempo, a criança vai buscar esses momentos por conta própria — não como obrigação, mas como prazer.

Dica bônus: Memória afetiva ilustrada

Após a leitura, que tal propor que a criança desenhe a capa do livro com o que mais marcou sua experiência? Esse exercício reforça a memória afetiva, estimula a criatividade e amplia a interpretação do conteúdo.

Além disso, montar um mural com as capas desenhadas permite que a criança veja sua “biblioteca emocional” crescendo. Ela se lembra do que leu, revê suas próprias criações e se orgulha do caminho construído.

Essa simples atividade envolve arte, leitura, memória e vínculo. É um lembrete visual de que os livros fazem parte da história dela.

Estudos que comprovam o impacto da leitura na infância

Pesquisas realizadas pela Universidade de Melbourne (2021) apontam que crianças que crescem cercadas por livros desenvolvem melhores habilidades linguísticas e cognitivas ao longo da vida — mesmo que não tenham sido alfabetizadas precocemente. A exposição à leitura amplia o vocabulário, melhora a memória e fortalece a capacidade de resolução de problemas.

Além disso, segundo o estudo “Home Literacy Environment” da Universidade de Nova York, crianças que têm rotinas de leitura com seus pais aos 3 anos apresentam maior desempenho escolar aos 10. Essa relação positiva é reforçada mesmo em lares com recursos financeiros limitados, o que comprova que o impacto não depende do número de livros, mas da frequência e da qualidade da interação.

Outro exemplo é o programa britânico “Bookstart”, que distribui livros gratuitos para bebês e promove leituras mediadas com os pais. Resultados de longo prazo mostraram que crianças participantes apresentaram maior desenvolvimento emocional e social, além de mais empatia e concentração.

Exemplo prático: A hora do conto que virou tradição

Juliana, mãe de duas meninas de 6 e 8 anos, conta que transformou a leitura em um momento sagrado antes de dormir. “Começamos com livros ilustrados bem curtos e hoje elas mesmas escolhem o que querem ouvir. Às vezes, até pedem para reler o mesmo livro por dias. Criamos o hábito juntas, e virou nosso momento de conexão.”

Ela conta que, recentemente, as meninas passaram a criar histórias juntas e registrar os próprios livrinhos com papel dobrado. “A leitura virou também escrita, e isso me emociona. Elas associam o livro a um tempo feliz.”

Esse tipo de relato é comum entre famílias que priorizam o afeto na construção do hábito. Mais do que performance ou quantidade, o que importa é o vínculo.

Conclusão

Cultivar o amor pelos livros é mais do que ensinar a ler. É abrir portas para o afeto, para a escuta, para a imaginação. Cada história lida junto, cada página compartilhada, forma uma memória — e essas memórias constroem leitores para a vida.

A infância é o tempo das descobertas. E com a leitura, cada descoberta vem carregada de possibilidades, perguntas e sonhos. Não importa o quão simples pareça: um canto com almofadas, uma entonação engraçada ou um livro escolhido com liberdade podem mudar tudo.

Aqui na Editora Viseu, acreditamos que toda criança merece descobrir o prazer da leitura. Por isso, cada livro infantil que publicamos carrega mais que palavras — carrega oportunidades de afeto, aprendizado e imaginação.

Vamos juntos plantar essa semente?

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