Quem disse que ser mãe é leve o tempo todo provavelmente nunca viveu os bastidores da maternidade. E é justamente sobre esses bastidores que Carla Barbosa escreve — com afeto, sinceridade e coragem.
Jornalista mineira, mãe de duas meninas e atualmente vivendo na Cidade do México, Carla lançou Mãe é tudo igual – Histórias comuns para pessoas reais, um livro que nasceu da experiência crua e amorosa de ser mãe nos dias de hoje. As crônicas vieram como desabafo, mas se transformaram em identificação para centenas de mulheres que, assim como ela, sentiam que estavam desaparecendo no meio de tanta demanda.
Nesta conversa para o blog da Editora Viseu, Carla compartilha como a maternidade reconfigurou sua identidade, o processo de escrever com verdade e o impacto que espera causar em outras mães. Uma entrevista que é, assim como seu livro, um abraço.
Veja tudo o que ela compartilhou conosco
Para começar, poderia nos contar sobre você e sua jornada como autora?
Meu nome é Carla Barbosa, sou jornalista, mãe de duas meninas, mineira de nascimento e atualmente moro na Cidade do México. Tenho 34 anos e uma paixão antiga pela escrita. Minha primeira experiência como escritora aconteceu ainda na faculdade de jornalismo. Logo nos primeiros seis meses, decidi que meu TCC seria um livro. Escolhi um tema pouco explorado: a imigração italiana no Brasil e a fundação do Palestra Italia, atual Palmeiras. Comprei diversos livros sobre o clube e percebi que esse recorte específico ainda não havia sido aprofundado. Fiz uma iniciação científica com base em recortes de jornais da Folha de S.Paulo sobre a mudança de nome do Palestra Italia durante a Segunda Guerra Mundial. Passei dois anos entre entrevistas e pesquisas, e mais seis meses escrevendo. Depois da maternidade, como acontece com muitas mulheres, senti que perdi minha identidade. Aquela Carla apaixonada por futebol deu lugar à Carla que já não encontrava tempo para assistir a um jogo ou debate esportivo. Com o tempo, fui me reencontrando dentro da nova rotina com filhos. Comecei a escrever sobre os desafios e as alegrias da maternidade, sem imaginar que esses textos se transformariam em um livro. Foram sete anos de registros que culminaram em Mãe é tudo igual. Meu interesse inicial por dar voz a imigrantes, usando o futebol como pano de fundo para resgatar histórias abafadas, deu lugar ao desejo de acolher mães que se sentem caladas e solitárias em sua jornada de criar, cuidar e educar um ser humano. Mudei o foco, mas o amor pela escrita continua o mesmo.
O que a inspirou a escrever o livro?
Durante muitos anos, me senti isolada, solitária, tentando lidar com sentimentos conflitantes. De um lado, um amor imenso pelas minhas filhas; de outro, a sensação de que eu mesma estava desaparecendo aos poucos. Meus gostos, hábitos, tudo que me definia como Carla, parecia se dissolver.
Escrever me trazia conforto. Compartilhar esses textos nas redes sociais me dava a sensação de que eu não era a única. As mensagens e comentários de outras mães me mostraram que minhas palavras ajudavam outras mulheres a perceberem que também não estavam sozinhas.
Como a sua experiência pessoal se reflete nos temas abordados no livro?
Sem minha vivência como mãe, o livro não teria sensibilidade. É impossível falar sobre a exaustão materna, acolher outras mulheres e retratar os desafios diários da maternidade — como a solidão e a perda de identidade — sem ter vivido tudo isso na pele.
Pode nos contar um pouco sobre o processo criativo por trás deste livro?
Foram sete anos escrevendo como uma forma de desabafo. Era como manter um diário. Depois, com o tempo e incentivo de quem me lia, transformei esse diário em livro.
Quais foram suas principais referências criativas para escrever o livro?
Rafaela Carvalho e Thaís Vilarinho, autora do Mãe fora da Caixa.
Existe algum trecho do livro que você gostaria de citar?
Não exatamente um trecho, mas há uma frase que aparece de várias formas ao longo do livro: “Mãe, você não está sozinha.”
Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao escrever o livro?
O maior desafio foi me expor. Compartilhar sentimentos conflitantes sobre a maternidade não é fácil. Como seria vista ao contar que, às vezes, estou exausta? Que já senti vontade de fugir? Que já me tranquei no banheiro só para ter um segundo de silêncio? Que sinto falta de quem eu era antes? Como explicar que, mesmo com tudo isso, eu não trocaria um segundo ao lado das minhas filhas?
Como você espera que seu livro impacte os leitores?
Espero que ele seja como um abraço para todas as mães.
Existe uma mensagem principal que você deseja transmitir?
Sim. Você não está sozinha.
Há algum personagem ou história no livro que você considere particularmente significativa?
A figura mais importante é a da própria mãe. Se cada mulher que ler o livro se reconhecer e conseguir olhar para si com mais carinho, o objetivo estará cumprido.
Como você acredita que a literatura pode contribuir para a vida dos leitores?
A literatura nos oferece novas perspectivas. Ao ler sobre personagens — reais ou fictícios —, conseguimos encontrar respostas para a nossa própria vida. No caso da maternidade, não falo de comparações, mas de identificação e acolhimento.
Além da literatura, quais são suas fontes de inspiração para escrever?
A vida cotidiana.
O que a literatura e a escrita significam para você?
São formas de desabafo e também de inspiração.
Quais são seus planos futuros como escritora? Há novos projetos em desenvolvimento?
Tenho o sonho de escrever um romance adulto e um livro infantil. Ainda são ideias embrionárias, mas estou animada com a possibilidade.
Que conselho você daria para alguém que está começando a escrever seu primeiro livro?
Escreva! Todo mundo tem uma história — comum ou extraordinária — capaz de tocar e inspirar outras pessoas.