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Biblioterapia: livros como cura

O que é a biblioterapia? A literatura como forma de cura

A leitura tem sido um refúgio para muitas pessoas ao longo dos séculos, sendo que os livros têm diversas funções dentro da sociedade. Eles podem educar, entreter, emocionar e, talvez mais surpreendentemente, curar. 

A biblioterapia, uma prática que usa a leitura como ferramenta terapêutica, tem ganhado destaque por seus benefícios comprovados na promoção do bem-estar mental e emocional. Apesar disso, ainda não é muito conhecida fora dos círculos acadêmicos.

Sendo assim, neste artigo explicaremos exatamente o que é a biblioterapia, quais são seus benefícios, quem pode aplicá-la, quais são seus tipos e quando é recomendada. Vem com a gente e confira!

O que é a biblioterapia? A literatura como forma de cura

O que é biblioterapia?

A biblioterapia é uma prática terapêutica que utiliza a leitura como forma de tratamento para problemas psicológicos, emocionais e sociais. A palavra tem origem grega, sendo a junção dos termos biblíon, livro, e therapeía, cuidado, terapia.

Sendo assim, ela explora os benefícos da leitura de maneira direcionada, visando o alívio das dificuldades mentais e o desenvolvimento pessoal. Através da leitura, narração ou dramatização de histórias, promove empatia, conexão com sentimentos e reflexões.

De acordo com Clarice Fortkamp Caldin, escritora do livro Biblioterapia: um cuidado com o ser e pesquisadora da área, a prática está pautada em seis componentes, sendo eles a catarse, o humor, a identificação, a introjeção, a projeção e a introspecção[1].

Consiste em etapas de leitura do texto, interpretação do que foi lido e, por fim, discussão e escuta. Assim, o indivíduo é incitado a se relacionar com o que leu, se identificando com as situações representadas, entendendo, expressando e refletindo melhor sobre suas emoções a partir disso.

É frequentemente aplicada em grupo, viabilizando a interação social e permitindo que os leitores externem e dialoguem sobre suas impressões. Também é possível utilizar o método de maneira individual, variando de acordo com o que é melhor para o indivíduo naquele momento.

Pode usar os mais diversos gêneros literários, desde  fantasia, romance e poesia até livros de autoajuda. As obras são recomendadas com muito cuidado e de acordo com as necessidades da pessoa, de modo a não só entreter e relaxar, como também provocar uma meditação mais profunda sobre si.

Como surgiu a biblioterapia?

O conceito de que a leitura pode curar e confortar é conhecido desde a Grécia Antiga, onde as bibliotecas eram vistas como locais sagrados de cura. No entanto, a biblioterapia como é conhecida hoje começou a tomar forma apenas no início do século XX.

O termo “biblioterapia” foi cunhado em 1916 pelo escritor americano Samuel McChord Crothers, mais tarde sendo definido pelo dicionário Dorland’s Ilustrated Medical Dictionary em 1941. O dicionário médico descreve a prática como o uso de livros e da leitura para o tratamento de doenças nervosas.

Na década de 1940-50, a prática começou a ser mais formalizada, com o curso de Biblioteconomia incluindo a disciplina e psicólogos incorporando a leitura terapêutica em seus tratamentos. Desde então, a biblioterapia evoluiu e se expandiu, sendo adotada em diferentes contextos.

Hoje, é reconhecida como uma ferramenta terapêutica valiosa em várias partes do mundo, integrando-se às práticas de psicologia, educação e trabalho social. Pode ser utilizada em diversos locais, desde escolas até hospitais, clínicas, asilos e até mesmo prisões.

Quando a biblioterapia é recomendada?

Inicialmente, esse tipo de terapia era mais utilizada em casos clínicos de transtorno psicológico, como depressão e ansiedade. Porém, hoje em dia sabe-se que qualquer pessoa pode usufruir da biblioterapia.

Indivíduos de qualquer idade, classe social, gênero e etnia podem se beneficiar com a prática, mesmo que não tenham nenhum tipo de transtorno.

De acordo com o psicólogo e professor Fernando Capovilla, em entrevista às colunistas Maria Fernanda Rodrigues e Sabrina Legramandi, do Estadão, algumas situações que podem ser tratadas com o auxílio da biblioterapia são:

  • Bullying
  • Luto
  • Paralisia
  • Abandono
  • Perda de bens
  • Traumas
  • Perda de sentidos (audição, visão)
  • Separação
  • Encarceramento
  • Perda de emprego

Atenção: a leitura só é considerada uma terapia propriamente dita quando acompanhada por um profissional. Embora ler por conta própria tenha seus próprios pontos positivos, caso esteja sofrendo gravemente com alguma dessas situações, procure um psicólogo ou médico de confiança.

Quais são os benefícios da biblioterapia?

A biblioterapia oferece uma ampla gama de benefícios, tanto para a saúde mental quanto para a evolução pessoal. Aqui estão alguns dos principais entre eles:

Redução do estresse e ansiedade

A leitura, principalmente de livros de ficção, pode ser uma forma eficaz de escapismo, permitindo que os indivíduos se distanciam temporariamente de suas preocupações. Ao mergulhar na história, conseguem um momento de descontração, livre de estresse e ansiedade.

Com o livro, a pessoa é temporariamente afastada de seus próprios pensamentos, mergulhando na história. O ritmo mais lento da leitura, quando comparado a outras formas de entretenimento como filmes e séries, por exemplo, também exercita o foco e a presença. 

Desenvolvimento da empatia

Ler sobre as experiências de outras pessoas pode exercitar e aumentar a empatia do leitor. A leitura força o indivíduo a vivenciar novas perspectivas, principalmente no caso de histórias narradas em primeira pessoa.

Ao se identificar com personagens que enfrentam desafios semelhantes, os leitores podem desenvolver uma maior compreensão e compaixão por si mesmos e pelos outros. Assim, se tornam mais empáticos e sensíveis aos sentimentos.

Estímulo à reflexão

Essa prática oferece uma oportunidade única de introspecção. Os leitores são encorajados a refletir sobre suas próprias vidas, valores e escolhas à medida que exploram os temas e as questões apresentadas nos textos.

Os livros servem como o ponto de partida para as próprias reflexões, guiadas pelo profissional. A partir da leitura, observam situações que podem estar vivendo por outros olhos, conseguindo se afastar um pouco das próprias percepções e chegar a novas conclusões.

Melhora na comunicação

A leitura já é muito conhecida por expandir o vocabulário e facilitar a própria escrita. Sendo assim, os livros, especialmente aqueles que abordam temas complexos ou emocionais, podem melhorar a habilidade de comunicação de seus leitores

Isso porque, ao serem expostos a novas palavras, frases e maneiras de expressar sentimentos, esses indivíduos aprimoram sua capacidade de articular seus próprios pensamentos e emoções de maneira mais clara e eficaz. 

Desenvolvimento pessoal

A biblioterapia ajuda os leitores a explorar questões pessoais e sociais de maneira segura e controlada. Isso pode levar a uma maior autocompreensão, resolução de conflitos internos e tomada de decisões mais informadas e conscientes.

Através da leitura de livros de autoajuda ou carreira, por exemplo, aprendem técnicas voltadas para o desenvolvimento pessoal e profissional. Com o acompanhamento de um terapeuta, podem explorar mais profundamente esses aspectos e desenvolver questões mais específicas. 

Redução do sentimento de solidão

A leitura cria uma sensação de conexão e pertencimento. Quando os leitores se identificam com personagens ou situações em um livro, eles sentem que não estão sozinhos em suas experiências ou sentimentos.

Isso é particularmente benéfico para pessoas que estão isoladas socialmente ou que se sentem desconectadas dos outros. A leitura, então, pode proporcionar uma companhia emocional e uma fuga da solidão.

Quem pode atuar como biblioterapeuta?

Diversos profissionais podem utilizar esse recurso, dependendo do contexto e das necessidades dos indivíduos que atendem. Aqui estão alguns dos profissionais que são capacitados para utilizar essa prática:

  • Psicólogos e terapeutas: Profissionais de saúde mental de diversas abordagens podem incorporar livros em seus tratamentos, recomendando obras específicas que tratam sobre as questões enfrentadas pelos pacientes.
  • Bibliotecários e educadores: Em escolas e bibliotecas, educadores e bibliotecários podem utilizar os livros para ajudar estudantes, criando programas de leitura específicos que visam o desenvolvimento emocional e social dos alunos.
  • Assistentes sociais: Profissionais de assistência social podem usar a leitura como ferramenta de empoderamento para apoiar indivíduos que enfrentam desafios como pobreza, exclusão social e violência doméstica.
  • Médicos e enfermeiros: Em contextos hospitalares, a biblioterapia pode ser usada como parte do tratamento de pacientes com doenças crônicas ou em recuperação de cirurgias. A leitura pode ajudar a melhorar o estado de ânimo dos pacientes e exercitar o cérebro.

 

Tipos de biblioterapia

Essa terapia literária pode ser aplicada de diversas maneiras, em diversos contextos. Porém, ela está dividida em duas grandes categorias[2], de acordo com seus objetivos e método de aplicação. São elas:

Biblioterapia clínica

A biblioterapia clínica é voltada para o tratamento de distúrbios e transtornos psicológicos através dos livros. É aplicada geralmente por psicólogos, psiquiatras, ou outros profissionais de saúde mental.

Visa tratar problemas comportamentais, emocionais, sociais, morais e físicos de seus pacientes, recomendando livros especificamente para isso. Podem incluir tanto obras de ficção quanto de não-ficção, dependendo das necessidades do paciente. 

A leitura é muitas vezes acompanhada de sessões de terapia, onde o conteúdo do livro é discutido e analisado em conjunto com o terapeuta. Assim, é mais voltada para a saúde mental e a cura de patologias.

Biblioterapia de desenvolvimento

Aplicada em contextos educativos ou comunitários, a biblioterapia desenvolvimental visa o crescimento pessoal e o desenvolvimento emocional de indivíduos ou grupos. É usado para aliviar angústias mais pontuais.

Este tipo é comumente usado em escolas para ajudar crianças e adolescentes a lidar com questões como bullying, autoestima e identidade. Livros que abordam esses temas de maneira acessível são utilizados para incentivar a reflexão e promover o diálogo. 

Normalmente, é aplicada por educadores e bibliotecários. Também pode ser utilizada em outros locais que não escolas, para uma evolução mais pessoal das habilidades sociais e emocionais.

Viu só como a biblioterapia está cheia de benefícios? Neste artigo, você aprendeu sobre essa prática terapêutica, que pode ser aplicada em diversos contextos e por diferentes profissionais com o mesmo objetivo: promover a saúde mental e crescimento pessoal através dos livros.

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Referências

[1] CALDIN, Clarice Fortkamp. A leitura como função terapêutica: biblioterapia. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, [S. l.], v. 6, n. 12, p. 32–44, 2001. DOI: 10.5007/1518-2924.2001v6n12p32. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518-2924.2001v6n12p32. Acesso em: 14 ago. 2024.

[2] CALDIN, Clarice Fortkamp. Leitura e terapia. Tese (Doutorado em Literatura) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão. Florianópolis, 2009.

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