Na entrevista a seguir, conversamos com Alexandra Jahnel, autora de “O Mestre dos Dragões Vermelhos: povos além do véu”. A autora compartilha sua trajetória como escritora, desde suas primeiras influências literárias até o processo criativo por trás de seu fascinante mundo medieval, Dhorman.
Além de abordar temas como mitologia e esoterismo, a autora discute como a escrita se tornou uma terapia e um meio de expressar temas complexos, como relacionamentos, honra e diversidade.
Neste conteúdo, você vai conhecer mais sobre o universo de dragões e batalhas criado por Alexandra, que combina fantasia e reflexões sobre questões atuais.
- Para começar, poderia nos contar sobre você e sua jornada como autora?
Alexandra Jahnel: Não é muito fácil falar sobre mim, sou relativamente tímida. Uma de minhas tias era professora, como ficava muito tempo na casa de minha avó, me alfabetizei cedo, já sabia ler e escrever aos 4 anos, gostava muito de poesia e ganhei um livro de poesias de Vinicius de Moraes (Arca de Noé).
Uma grande professora, Sra. Gema Galasso, sempre me incentivou a escrever, o interessante que sempre tirava notas baixas em Língua Portuguesa, mas as redações me salvavam sempre.
No decorrer de minha vida escolar participei de inúmeros concursos literários, geralmente com poesias. Hoje, trabalho em uma empresa pública, a associação de empregados efetua concurso literário todo ano, cheguei a ganhar algumas vezes, com publicação da obra em livros e prêmios, tantos me disseram que deveria escrever um livro que acabei me enveredando por esse caminho.
- O que o inspirou a escrever o livro?
Alexandra Jahnel: Colegas e familiares sempre me dizendo para escrever um livro, acabei começando a escrever O Mestre dos Dragões Vermelhos após ler sobre bruxaria antiga e uma vertente voltada aos dragões (amo mitologia e esoterismo), a ideia surgiu e comecei a escrever. A história foi fluindo de uma forma estranhamente leve.
- Como a sua experiência pessoal se reflete nos temas abordados no livro?
Alexandra Jahnel: Apesar de ser um livro de atmosfera medieval, muitos assuntos atuais são abordados: aborto, homossexualidade, relacionamentos, honra, corrupção e muito mais.
Muitos dos personagens são inspirados em pessoas que marcaram minha vida em algum momento, mas muito do que sou está nessa obra.
- Pode nos contar um pouco sobre o processo criativo por trás deste livro?
Alexandra Jahnel: Sempre gostei de ler, escrever foi uma consequência. Escrever é uma terapia insana, encontro meu equilíbrio em meio a meus amados dragões.
A história surgiu quando lia sobre a tradição draconiana na bruxaria antiga, não existe muito material sobre o assunto, mas absorvi o que encontrei.
Sou fascinada por mitologia e esoterismo, então a história começou a fluir, os personagens passaram a se fazerem presentes e não parei mais de escrever.
- Quais foram suas principais referências criativas para escrever o livro?
Alexandra Jahnel: Misturei a mitologia com a realidade, a atmosfera é medieval, mas abordei assuntos atuais.
- Existe algum trecho do livro que você gostaria de citar?
Alexandra Jahnel: Gostaria de incluir uma introdução.
“Dhorman, um mundo de dragões, fadas, elfos e magos…
O reinado comandava esse mundo mágico, um reinado da escuridão, o reinado de Lur. O rei permite que seu principal campeão da guarda desposasse uma de suas filhas, não considerava que Dhamaggor se interessasse pelo poder, mas esse fomenta a revolta dos vassalos do rei e toma o poder, transformando-se no imperador de Dhorman.
O império de Dhamaggor se inicia de forma sombria, toma duas das gemas de poder de Lur, mas Lumanzir, a conselheira dragão do rei, esconde as demais. O uso da gema da eternidade lhe dá juventude e poder, mas o preço a se pagar era uma vida em troca do poder. Dhamaggor soube de sua origem, seu pai era um dragão verde transformado, sua mãe era filha de Lur com uma das herdeiras da linhagem de Kirlon; com estratégia e traição, Lur havia conseguido que elfos e demais magos acreditassem que os Kirlon eram traidores do reino, tomou-lhe a vida, o espólio e uma de suas filhas. O castelo de Kirlon ficou conhecido como o castelo das sombras, ali Lur levava seu intento de criar a raça pura, uma raça que conseguisse manipular as gemas de poder. Lur havia sequestrado a filha do chefe élfico, Jurton, e a mantinha no castelo das sombras, tomou-a, assim como tomou a filha mais nova da casa de Kirlon, acreditava que a diluição do sangue de sua linhagem havia prejudicado a utilização das gemas Lurins, gemas de poder, motivo de não ter sido ainda deposto.
A loucura do castelo das sombras durou décadas, Lur não somente tivera filhos com a filha de Jurton, tomou também as próprias filhas para garantir a pureza do sangue, os meninos eram descartados e as meninas bastardas serviriam como reprodutoras, seja para si ou para um de seus filhos.
Dhamaggor nascera no castelo das sombras, fruto de uma paixão entre um dragão verde transformado e uma das filhas de Lur, o dragão morrera nas mãos do rei e Dhamaggor fora salvo por uma velha lurin e entregue para ser criado por um mago, soube de sua origem apenas com a morte daquele que considerava pai.
Lur ainda resistia, conseguira reunir muitos antigos vassalos, além de ter como aliados tanto dragões como elfos, a guerra durou décadas, Dhamaggor gradativamente percebeu que estava se transformando naquilo que mais abominava, tinha intenção de tomar as herdeiras de Lur e delas ter filhos e herdeiros com seu sangue e sangue de Lur, mas uma jovem, Tazla, toma-lhe o coração e os planos mudam: queria agora somente vencer Lur e manter a quem amava em segurança.
Tazla nascera também no castelo das sombras, havia sido salva pela mesma Lurin que salvara Dhamaggor, contou a Jurton sobre o que realmente ocorrera nos castelo das sombras e o destino de sua filha, elfos e muitos magos romperam com Lur e esse é morto.
Dhamaggor parecia ter conquistado a paz, eventualmente herdeiros de Lur surgiam, mas o imperador conseguira criar um império forte, que contava com várias fortalezas e também conseguira ter aliados fortes, como dragões e elfos.
Nas décadas que se seguiram, Dhamaggor perdera muitos a quem amava, Tazla, Kalía e Salar foram suas consortes, tivera muitos filhos, em sua maioria meninas, criou-as para se transformarem em mulheres fortes, não teria suportado os anos de solidão sem as filhas.
Dhorman agora apresentava novos problemas, precisava de um sistema de comunicação mais eficaz entre as fortalezas de seu império e, para isso, se arriscaria a contatar uma fada.
Dhamaggor e Galyra se encontram com um ser que se dizia fada, para eles não se passaram mais que algumas horas, mas em Dhorman ficaram desaparecidos por mais de sete anos.
Os véus de Dhorman tornava-se cada vez mais tênue, habitantes de outros mundos agora pulavam para Dhorman e nem todos eram amigos.”
- Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao escrever o livro?
Alexandra Jahnel: Matar personagens, acho que foi o mais desafiador, pois me afeiçoei a muitos deles e adiava o momento de matar alguém.
- Como você espera que seu livro impacte os leitores?
Alexandra Jahnel: Espero que os leitores imaginem Dhorman e consigam criar em suas mentes todos os personagens, bem como as batalhas e que apreciem os romances.
Há muito romance na obra, bem como momentos bem quentes, afinal, em sua maioria, são dragões e a época do dragão ocorre com frequência. (época do dragão: período de reprodução dos dragões).
- Existe uma mensagem principal que você deseja transmitir?
Alexandra Jahnel: Os dragões, em sua maioria, são seres honrados. Gostaria muito que nosso mundo tivesse essa honra.
- Há algum personagem ou história no livro que você considere particularmente
significativo?
Alexandra Jahnel: Existem vários personagens interessantes: Os Eros são homossexuais, não foram bem aceitos na época de Lur, mas durante o Império é diferente, embora não haja total isenção de preconceito.
Os Juraz são hermafroditas, Shakl, filho de Dolgar, é um Juraz, no Império de Dhamaggor não houveram perseguições nem a Eros nem a Juraz. Na obra, também discute-se a questão do aborto, bem como a as punições para os homens que praticam violência contra as mulheres.
Embora a história tenha uma atmosfera medieval, as mulheres possuem muitos direitos, muitas se transformam em grandes guerreiras.
- Como você acredita que a Literatura pode contribuir para a vida dos leitores?
Alexandra Jahnel: A leitura abre as portas da imaginação, transporta o leitor para outros mundos, o apresenta a outras formas de viver e, muitas vezes, o faz repensar sobre seus conceitos e preconceitos.
- Além da literatura, quais são suas fontes de inspiração para escrever?
Alexandra Jahnel: A mitologia e o esoterismo estão presentes com certeza, muitos seres de outros mundos que foram para Dhorman tem como origem e inspiração muitas lendas.
Interessante que passei a ler muito sobre a forma de vida na era medieval, me interessei por fermentação natural e cheguei a fazer hidromel com fermento natural, feito com maçã, na China usava-se arroz para fermentação do hidromel.
Acabei enveredando também por utilização de produtos mais naturais, cura pelas plantas e culinária medieval, não é fácil encontrar carne de carneiro, mas carne de porco fica bom também (quem sabe o próximo livro seja sobre a culinária do Império).
O que chamamos hoje de charcutaria também é dessa época, a cura da carne era de suma importância, cheguei a testar técnicas também (fiz um presunto cru com joelho de porco). Obviamente não joguei meu fogão pela janela, mas fazer uso da defumação artesanal, fazer hidromel, vinho de maçã e cerveja artesanal é algo que me deu também inspiração, trazer um pouco da era medieval do império para minha cozinha foi interessante.
- O que a literatura e a escrita significam para você?
Alexandra Jahnel: Sou alguém que prefere “inventar moda” em casa que sair, nunca apreciei muito grande movimento de pessoas, sou relativamente tímida e tenho preferência a me dedicar a coisas que hoje a maior parte das pessoas não se interessa mais, como crochê, costura, culinária, artesanato, bordado… Ler e escrever para mim equilibra minha vida, principalmente emocionalmente, sou bancária, é um trabalho muito estressante, escrever me acalma e me equilibra.
- Quais são seus planos futuros como escritor? Há novos projetos em
desenvolvimento?
Alexandra Jahnel: Sim, a continuação da saga dos dragões, afinal ainda não foi revelado quem é o Mestre dos Dragões Vermelhos e um novo projeto: A bruxa nas terras de verão. Basicamente é uma mulher que morre e tem diversas experiências em diversos “infernos” e “paraísos”,
- Que conselho você daria para alguém que está começando a escrever seu primeiro
livro?
Alexandra Jahnel: Escreva, escreva, escreva e leia o que escreveu. O início não é fácil, mas depois que você começa, há como voltar e modificar a história se achar que não ficou bom.
Os personagens de “O Mestre dos Dragões Vermelhos” mudaram muito entre o início e as diversas leituras do que escrevi; assim também aconteceu com o enredo.
Escreva e imagine que é um diamante a ser lapidado, então vá pacientemente lapidando, é compensador ler o que escreveu e gostar, até mesmo chorar quando um personagem que se gosta deve morrer (vou enlouquecer meu marido com isso), mas o coração do escritor deve estar na obra, então chore, ria, se envolva emocionalmente com sua obra.