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Descubra o que é um microconto e como escrever um

Microconto: o que é? Tudo sobre essas breves narrativas

Você já ouviu falar do microconto? Como o nome indica, é um conto pequeno, mas vai muito além disso. Narrativa muito intrigante, sua capacidade de sintetizar mundos inteiros em poucas palavras tem encantado cada vez mais leitores.

Esse tipo de escrita vem ganhando força na literatura contemporânea, principalmente com o avanço das redes sociais. Mas, apesar de ser uma prática crescente, ainda é desconhecida por muitos leitores e até mesmo autores como uma possibilidade.

Pensando nisso, apresentaremos aqui o que exatamente é o microconto, suas principais características, exemplos mais icônicos e dicas para você desenvolver sua própria narrativa diminuta. Fique com a gente e confira!

Microconto: o que é? Tudo sobre essas breves narrativas

O que é um microconto?

Um microconto, também conhecido como miniconto, é um tipo de narrativa caracterizada por ser extremamente curta, normalmente de algumas linhas ou poucos parágrafos. Seu objetivo é contar uma história da forma mais concisa possível.

Diferente da escrita de contos usuais, focados na descrição de ações e cenários, o microconto excele no não dito. Por seu tamanho diminuto, deixa a maior parte da interpretação a cargo do leitor, mais sugerindo do que narrando seu enredo.

Apesar da ideia de contar histórias curtas não ter surgido com esse tipo de escrita, o microconto como conhecemos hoje começou a tomar forma em meados do século XX. Escritores como Franz Kafka, Julio Cortázar e Augusto Monterroso foram os precursores desse tipo de escrita.

No Brasil, um marco para esse tipo de narrativa vem com Dalton Trevisan, a partir da publicação de Ah, é? em 1994. Com esse livro, dedicado à histórias breves, veio uma onda de antologias focadas nessas narrativas.

Atualmente, esse tipo de conto tem se popularizado cada vez mais. Facilmente compartilhável, ganhou força nesses tempos de comunicação instantânea e redes sociais. Se tornou popular principalmente em plataformas como o X (Twitter), onde o número reduzido de caracteres é propício para escritores desse estilo.

Microconto, miniconto ou nanoconto?

Por ser ainda um tipo de narrativa muito nova, não há nenhuma definição certa do que diferenciao microconto, o miniconto e o nanoconto. Alguns autores e estudiosos os colocam como sinônimos, enquanto outros os separam em diferentes categorias.

Um miniconto pode ser visto como um conto muito breve, entre 50 a 300 palavras. Já o microconto é menor, de até 50 palavras, sendo o nanoconto menor ainda, de até 20 palavras. Outras definições de tamanho, como 150 caracteres para minicontos e 50 letras para nanocontos, também são utilizadas. 

Essas definições ainda são amplamente discutidas, mas há um consenso: a brevidade dessas narrativas. Em todas as definições, eles são menores do que uma página, variando apenas em grau de síntese.

Características de um microconto

Um tipo de escrita muito peculiar, existem algumas particularidades que diferenciam o microconto de outros tipos de histórias. São elas:

Brevidade

Uma das características mais importantes, que definem esse estilo de narrativa, é seu tamanho: microcontos são, invariavelmente, pequenos. O desafio é, justamente, criar uma história completa com poucas palavras.

Muitos autores contam até mesmo as letras das palavras, por vezes almejando um número exato como 50 ou 20. Essa limitação de tamanho é a alma desse tipo de texto, que se destaca justamente por ser extremamente curto. 

Concisão

Além de serem pequenos, os microcontos também são concisos. Ou seja, além de apenas um tamanho reduzido, devem ser conceitualmente sintetizados, enxugados e precisos. Cada palavra tem uma razão e um sentido, sendo escolhida com parcimônia e ponderação.

A narrativa não se estende, mas também não está inacabada, ela é do tamanho exato que deve ser. Até mesmo a ordem das palavras é muito bem pensada, sendo que toda a semântica da história deve ser extremamente precisa, sucinta e clara.

Narratividade

Para estar enquadrada nesta categoria, a história deve ter teor narrativo: mover algo ou alguém para algum lugar. Sendo assim, é imprescindível que tenha narrador, enredo, personagem e espaço, mesmo que implícito.

É esse o principal aspecto que difere a escrita de um microconto da escrita de um poema. Também é o que faz com que seja uma história, não apenas uma descrição. O caráter narrativo é imprescindível para esse tipo de texto.

Sugestividade

Um dos maiores diferenciais desse tipo de escrita é sua alta capacidade sugestiva. O subtexto é tão ou até mais importante do que o texto em si, sendo que grande parte da história será inferida pelo leitor.

Esses textos são conhecidos por instigar a imaginação e a criatividade, convidando o leitor a fazer parte da narrativa mais ativamente. Assim, são muito envolventes e permitem uma diversidade enorme de interpretações.

Efetividade

Microcontos são impactantes, muitas vezes comparados a um nocaute logo no primeiro soco em uma luta de boxe. Causam uma forte impressão nos leitores, normalmente com seu desfecho, que costuma carregar toda a força desse impacto.

Alguns buscam um efeito mais cômico, outros choque, reflexão e até mesmo medo. Microcontos de terror são um tipo especialmente popular dentro dessa categoria, tendo a capacidade de arrepiar os pelos da nuca de leitores com pouco mais de três linhas.

Exemplos de microcontos

Diversos autores renomados se aventuraram na escrita dessas narrativas diminutas. De grandes nomes da literatura clássica a autores contemporâneos, confira 10 autores de microcontos e seus principais textos, para entender como é esse tipo de narrativa na prática:

Augusto Monterroso

O guatemalteco Augusto Monterroso é o escritor do microconto mais conhecido da literatura:

Microconto de Augusto Monterroso

Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá.

Essas 37 letras ficaram famosas, rendendo diversas interpretações, debates e paródias. É um verdadeiro marco nesse tipo de narrativa.

Ernest Hemingway

O norte-americano Ernest Hemingway é mais conhecido por seus romances, mas também é a ele atribuído um dos microcontos mais conhecidos:

Microconto de Ernest Heminggway

Vende-se: sapatinhos de bebê nunca usados.

Nesta breve narrativa, o autor consegue inserir toda a imensidão de uma perda em um simples anúncio de venda, convidando o leitor a imaginar o que pode ter acontecido a essa família.

Lygia Fagundes Telles

Uma das maiores escritoras do Brasil, Lygia Fagundes Telles também se aventurou na escrita dessas breves histórias:

Fui me confessar ao mar. O que ele disse? Nada.

Com um simples jogo de palavras, a escritora conta uma história que abre portas para diversas interpretações, que vão do humorístico até o mais reflexivo.

Alan Moore

Conhecido escritor de quadrinhos, o britânico Alan Moore também molhou os pés nesse tipo de escrita:

Microconto de Alan Moore

Tempo. Inesperadamente, inventei uma máquina do

Aqui, ele brinca com a disposição das palavras para criar uma sensação de loop, em um microconto extremamente estilístico e divertido.

Cíntia Moscovich

A escritora brasileira Cíntia Moscovich é uma conhecida contista, ganhadora do primeiro lugar no Concurso de Contos Guimarães Rosa. Aqui está um exemplo de sua produção minimalista:

Microconto de Cíntia Moscovich

Uma vida pela frente. O tiro veio por trás.

Nesta narrativa brutal, a escritora utiliza antônimos para contar a breve história de um assassinato. É um dos melhores exemplos do impacto que esses textos podem causar.

Dalton Trevisan

O famoso contista Dalton Trevisan, conhecido como o Vampiro de Curitiba, é um dos principais nomes na escrita de microcontos do Brasil. Confira um de seus textos mais conhecidos:

Microconto de Dalton Trevisan

A velha insônia tossiu três da manhã.

Aqui, o escritor pinta uma narrativa cheia de perguntas, ao mesmo tempo que gera identificação. É marcado por mistério, em uma história típica do Vampiro.

Anton Tchekhov

Mais conhecido por sua produção teatral, o russo Anton Tchekhov é autor de uma das histórias curtas mais conhecidos:

Um homem, em Monte Carlo, vai ao cassino, ganha um milhão, volta para casa, se suicida.

Em uma frase, o autor conta uma história surpreendente e repleta de dúvidas. Fonte de muitos debates, é um grande exemplo de como esses textos podem ser instigantes.

Franz Kafka

Mais conhecido por escrever um dos mais marcantes livros da literatura clássica, Franz Kafka é considerado um dos precursores da popularização dessas narrativas breves. Um de seus microcontos mais notável é:

Microconto de Franz Kafka

Uma gaiola saiu à procura de um pássaro.

A partir dessa história, pode-se tecer inúmeros discursos sobre liberdade e segurança. Aqui, há um quê de absurdo típico de Kafka, que incita interpretações e questionamentos.

Adriana Falcão

Conhecida roteirista, tendo trabalhado na Globo e em filmes como O Auto da Compadecida e Se Eu Fosse Você, Adriana Falcão também atua na literatura. Aqui está um de seus microcontos:

MIcroconto de Adriana Falcão

Ali, deitada, divagou: se fosse eu, teria escolhido lírios.

Nessa história, o leitor se pergunta quem é a narradora e em qual situação se encontra. As muitas possibilidades de interpretação e entendimento são um exemplo clássico desse tipo de narrativa.

Leonardo Brasiliense

Vencedor do prêmio Jabuti na categoria juvenil em 2007 com Adeus conto de fadas, uma antologia de microcontos, Leonardo Brasiliense é um dos maiores nomes da literatura minimalista no Brasil:

Microconto de Leonardo Brasiliense

TV NO QUARTO

E os pais na sala, assistindo a um documentário sobre os dramas da adolescência.

Nesta simples história corriqueira, o autor imprime todo um relacionamento conturbado entre adolescente e pais. Com grande efeito, promove reflexão e até mesmo critica a postura de alguns familiares.

Como fazer um microconto?

Agora que você já sabe todas as potencialidades que esse tipo de narrativa carrega em suas poucas palavras, deve estar se perguntando como pode escrever o seu. Confira algumas dicas para criar seu próprio microconto de sucesso:

Leia microcontos, minicontos e nanocontos

A melhor forma de aprender a escrever é, sem dúvidas, ler. Familiarize-se com o gênero literário no qual quer embarcar e aprenda com os grandes nomes da literatura minimalista. Observe o que causou o maior impacto em você e tente replicar isso nos próprios textos.

Observe o mundo

Tudo pode ser fonte de inspiração para seu microconto. Observe o mundo ao seu redor e pense no que pode ser tema de uma narrativa. Situações mais cotidianas, simples e humorísticas podem ser um bom começo!

Pense em cada palavra

Uma das partes mais importantes nesse tipo de história é a escolha de palavras. Familiarize-se com sinônimos e antônimos e brinque com as palavras. Muito do impacto desse tipo de narrativa está no contraste das palavras escolhidas.

Seja surpreendente

Grande parte do apelo desses textos vem de sua capacidade de subverter as expectativas dos leitores e surpreendê-los em poucas palavras. Busque a originalidade, fuja de clichês e procure sempre inserir um plot twist em seu microconto, por mais breve que ele seja!

Seja simples e direto, mas não impessoal

Esses tipos de narrativa não têm espaço para descrições detalhadas ou palavreado rebuscado, mas ainda tem seu caráter artístico. Seja o mais simples, direto e compreensível possível, mas não esqueça que está contando uma história: busque o equilíbrio entre síntese e estilo.

Confie em seu leitor

O sucesso de um microconto também depende muito da capacidade de interpretação de quem o lê. É preciso confiar no leitor e deixar partes em branco para que ele preencha, focando mais em sugerir a história do que em contá-la.

Peça feedback

Ter uma visão externa de sua história é sempre importante, mas nesse caso é imprescindível. Peça para outras pessoas lerem sua narrativa e dizerem suas interpretações e entendimentos do texto, para que você saiba se realmente conseguiu alcançar o efeito desejado!

Como você pode ver, o microconto é um tipo de escrita que, apesar de muito breve, carrega um potencial narrativo, estilístico e emocional imenso. A partir desse artigo, esperamos que você se sinta inspirado para escrever sua própria micro história.

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