Alfredo Bottone é um especialista em Direito do Trabalho e RH com uma missão clara: erradicar o assédio moral e sexual dos ambientes corporativos. Seu sétimo livro, “Crises Ocultas: O assédio moral e sexual no ambiente de trabalho”, é um manual prático e estratégico que traduz o tema para a linguagem de líderes, gestores e colaboradores.
Nesta conversa, Bottone compartilha como sua vasta experiência em multinacionais e seu foco em dignidade humana se transformaram em uma obra essencial para a construção de ambientes éticos e produtivos. Uma entrevista que é, assim como seu livro, um chamado à tolerância zero contra a violência no trabalho.
Para começar, poderia nos contar sobre você e sua jornada como autor?
Este é o sétimo livro que publico. O primeiro foi em 2012 (Insights de Um RH Estratégico). Procuro tornar minhas obras bastante focadas nas empresas, visando melhorar a performance das mesmas, tanto do ponto de vista de cumprimento de normas legais, valores éticos, reputação e, ao mesmo tempo, oferecer algo que seja pragmático.
O que o inspirou a escrever o livro?
A questão do assédio moral e sexual no ambiente de trabalho torna o ambiente tóxico. A edição da Convenção 190 da OIT, em comemoração aos 100 anos desse relevante órgão internacional, trouxe o assunto à tona com muita propriedade, determinação e abrangência, onde o foco central é o combate ao assédio e a qualquer tipo de violência. Sendo especialista na área de direito do trabalho, esse tema me é muito caro. Aproveitei esse movimento no mundo e resolvi lançar o livro e já estou agora pronto a lançar o curso com o mesmo título.
Como a sua experiência pessoal se reflete nos temas abordados no livro?
Fui head de RH em 5 grandes empresas, nas quais sempre procurei desenvolver as lideranças também nos soft skills, tendo como base o RESPEITO e a VALORIZAÇÃO do capital humano. Muitas vezes percebia que o assédio era decorrente do estilo de líder. Então, fazia-se necessário orientá-los e treiná-los para que tratassem os profissionais com respeito, reconhecimento e valorização das relações laborais, para que o ambiente sempre fosse muito saudável, atraindo novos e retendo os bons profissionais.
Pode nos contar um pouco sobre o processo criativo por trás deste livro?
Além da minha experiência no Brasil e internacional, notadamente, França e Estados Unidos, procurei fazer uma ampla pesquisa sobre o tema em diferentes países. Entendi que com o livro poderia contribuir para uma maior conscientização principalmente das lideranças e área de RH. Por isso, adoto uma proposta de combate ao assédio, com o mesmo vigor que se combate o acidente do trabalho, ou seja, tolerância ZERO.
Quais foram suas principais referências criativas para escrever o livro?
Além da Convenção 190 da OIT, principal instrumento que norteou o livro, recorri a algumas normas internacionais. No Brasil, a Constituição Federal, CLT, NRs e Jurisprudência também ajudaram a formar uma base para o conteúdo. Também sempre me utilizo de casos reais para melhor ilustrar o conteúdo, não só daqueles que vivenciei, como aqueles que constam em bibliografias.
Existe algum trecho do livro que você gostaria de citar?
“A verdadeira grandeza de uma organização se mede pelo bem-estar, pela dignidade e pela prosperidade de seus trabalhadores.”
“O assédio moral e sexual não são apenas violações éticas – são feridas profundas na alma organizacional que comprometem pessoas, resultados e reputação.”
Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao escrever o livro?
Buscar a referência em alguns países onde o tema ainda é um tabu. E colocar numa linguagem que seja universal qualquer que seja o nível do leitor, para tornar o tema compreensível e aplicado na prática do dia a dia nas empresas.
Como você espera que seu livro impacte os leitores?
Primeiro que haja compreensão clara do conceito do assédio, depois que haja compreensão do quanto ele é nocivo às pessoas e à organização e, por fim, que cada um reflita o quanto pode e deve fazer para que o assédio seja totalmente intolerado e expurgado da organização.
Existe uma mensagem principal que você deseja transmitir?
A dignidade do trabalhador é o alicerce indispensável para uma organização verdadeiramente saudável, produtiva e ética. Combater o assédio moral e sexual não é apenas uma obrigação legal, mas uma estratégia essencial de gestão que preserva pessoas, fortalece a cultura corporativa e protege o valor da empresa. O livro argumenta que não há contradição entre ser ético e ser lucrativo; pelo contrário, a sustentabilidade de uma organização está diretamente ligada ao modo como ela trata seus colaboradores.
Há algum personagem ou história no livro que você considere particularmente significativa?
Embora não haja um “personagem” com nome e uma narrativa longa, o operador anônimo de um caso que cito em uma fábrica (e outros casos similares citados, como o da empregada doméstica coagida) tornam-se as figuras centrais e significativas do livro. Essas “histórias” são os veículos que uso para transmitir a urgência e a gravidade de minha mensagem, conectando a teoria à realidade brutal que muitos trabalhadores enfrentam.
Como você acredita que a literatura pode contribuir para a vida dos leitores?
A literatura desta obra pode contribuir de forma profunda e prática, funcionando muito mais como um manual de sobrevivência e transformação do que apenas um livro teórico. Ela oferece validação e empoderamento para vítimas, um guia prático de prevenção para líderes e a conexão do tema com a sustentabilidade e ESG para a alta direção. Em resumo, transforma o leitor de um espectador passivo em um agente ativo na construção de ambientes de trabalho mais dignos e seguros.
Além da literatura, quais são suas fontes de inspiração para escrever?
Os casos práticos. Tendo vivido em diferentes ambientes de trabalho, em empresas com culturas totalmente diversas, lembrei-me desde o começo de minha jornada, onde fui vítima de assédio moral (sem dolo por parte dos empregadores), o que me ajudou a influenciar positivamente quando assumi o RH de empresas com culturas diferentes.
O que a literatura e a escrita significam para você?
A literatura não é sobre entretenimento; é sobre impacto. A escrita não é sobre fama; é sobre missão. É o veículo que eu escolhi para lutar por um mundo mais justo, transformar a minha experiência em ensinamento e, acima de tudo, afirmar que o trabalho digno é um pilar fundamental da civilização.
Quais são seus planos futuros como escritor?
Sim, tenho novos projetos. Pretendo escrever mais duas obras voltadas para as organizações e depois escrever um romance de impacto que estou começando a estruturá-lo e pretendo produzi-lo em outras línguas também.
Que conselho você daria para alguém que está começando a escrever seu primeiro livro?
Defina seu propósito: por que este livro deve existir? Conheça seu público, pesquise com rigor, mas escreva com clareza e humanidade. A disciplina supera a inspiração: estabeleça uma meta de escrita consistente. Por fim, persista. Escrever um livro é uma maratona, não uma corrida. E o mais importante de tudo: Conclua.