

Thereza: a procura de paz
E quantas lembranças agitam-se dentro da nossa cabeça, confusas como a vida. E vêm aos pedaços, esfaceladas, nuas, cruas, disfarçadas, escondidas, reais, encortinadas em lágrimas, alegrias, esperanças, tristezas, ilusões, desilusões. Às vezes, em forma de sonhos; e outras vezes, de pesadelos. Assim são as nossas lembranças.
Um déjà vu, que revivemos em um cheiro de perfume antigo, em uma brisa que passa em um lugar perdido, em um sorriso ou gesto de um rosto desconhecido. E a lembrança vem feito um elo perdido, recuperando o esquecido.
Este livro, que a princípio seria À procura de paz, passou a Thereza, nome de minha mãe. As passagens que aqui relato, são pedaços fragmentados de uma vida que se foi muito cedo. Tanto contei e escrevi sobre o meu pai, que um dia meu filho me sugeriu contar a história em primeira pessoa, como se fosse ele. Pensei e gostei da ideia, pois gosto muito da obra de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas. Existe também em mim muita crença na espiritualidade. E pensei: “por que não?”
Meu pai, Odécio, faleceu aos trinta e três anos de idade, deixando a família, os amigos e os filhos pequenos ainda. Por que não descrever a vida desse homem simples e cheio de sonhos, que foi ceifada tão precocemente? Cada um escreve o que sente, o que vive, o que pensa. E é nesse homem com quem vivi por oito anos que penso todos os dias da minha vida há cinquenta anos.
Não é uma história fantástica; é uma história simples e igual a tantas outras. O que a faz ser interessante? O amor, a dor, a separação, o despreparo para deixar de viver prematuramente, o encarar o outro lado da vida: a morte.
Por que Thereza? Em um sonho, depois de ter escrito esta história que você lê, estávamos os dois caminhando lado a lado, quando ele me disse: “Filha, sou grato por esse amor que me dedica há mais de meio século, mas a heroína dessa história foi a sua mãe, que sozinha lutou e sofreu muito para criar os filhos. Este livro é dela. Faça-lhe essa homenagem.”
E assim o fiz. Thereza, realmente, é uma grande mulher. Aquela que foi tão amada, tão submissa, tão sofrida, tão resignada diante da vida. Thereza, nome forte com toda certeza. Thereza, minha mãe, este livro é dedicado a você, como troca de uma imensa gratidão. Thereza, amor, fé e perdão!